sábado, 9 de janeiro de 2010

Sob-mim

Foi-se o tempo em que achei meus defeitos engraçados
Mas já sei onde nasceram alguns deles
Minha herança é mais que genética,
Começou pegando minha mão esquerda
Riscando meu primeiro a b c d

Foi-se o tempo em que meu pai era herói
O Espelho que era meu, e hoje não é mais
Brincávamos de aviãozinho na casa de vovó, e eu voei alto
Tão alto que não enxergo seu rosto,
Quem é, quem foi, quem será

Foi-se o tempo de rebeldia sem causa
Das loucuras em meio a tantas garrafas
Da fumaça que cuspia aos quinze
E comprimidos que faziam voar,
Como no aviãozinho, um pouco mais alucinógeno

Foi-se os medos;
De falar, fazer e ser.
Da porta do guarda-roupa aberta à noite
Do Fred estar debaixo da minha cama
Da minha boneca ser possuída e me matar dormindo

Foi-se a filha dos meus pais,
Que só recebe um abraço dia vinte e oito de janeiro,
Um sorriso quando a piada não é sua,
Dona da carapuça que engana os vizinhos
Em prol de não envergonhar ninguém,
Nem papai nem mamãe.

Foi-se enfim/ o tempo cair sobre mim/ em que não tinha voz
Agora ser / alguns palmos ao chão, seriam sete / sob mim

5 comentários:

  1. Pesado, espero que não tenha vivênciado tudo isso..

    Certamente sobre nós, acima de nossos ombros carregamos muito mais do que gostariamos, deveríamos, precisaríamos...

    Os anos passam em um piscar de olhos, e de um dia jóvem, no outro adulto.
    Os defeitos realmente perdem a graça, as atitudes sem cândido... No entre-meio é verdade que os herois mudam e nos afastamos do que parecia tão suave e belo 'antes'.
    Faziamos parte de um grupo seleto de gente que queria aparecer, e eramos sociais alcóolicos e exibidos em fumaça que insistia em sair após marcar cinza o pulmão, da fumaça com cheiro de chá? Dos medicamentos não recomendados?

    Só discordo sobre os medos, antes era eu indestrutível e intocável, agora sei bem o que me guarda e aguarda... Não há braços abertos para quem não o merece, não há mais vida, em um cordo de 26 para 27 anos...

    Preveni e fiz meu testamento...
    http://vocevaisobreviver.blogspot.com/2009/11/testamento-morreria-comigo.html

    ResponderExcluir
  2. Bonito e triste!
    Continue escrevendo nas situações difíceis. Assim que surgem as melhores obras ;)
    Beijoo

    ResponderExcluir
  3. Duda!
    Você devia etsar vendo a minha cara decorada de lágrimas na frente dessa tela!
    Mas, nem precisas ver pra entender o porquê.
    Tua verdade, tua essência e sim, tua pureza da osilação da menina e da adulta, da porra-louca e da consciente tocam a parte mais profunda de mim e as lágrimas são consequência, apenas.
    Amei e amei!
    Sensível e bem escrito até o último suspiro em forma de letra.
    Entendo bem a agonia que faz tua arte.
    Estou aqui, sempre.
    Melhor eu parar de falar...deixa eu viver aqui, sozinho e calado na madrugada, esse momento que você me proporciona.

    ResponderExcluir
  4. Cara, eu me indentifico tanto com seus textos, é incrivel!

    ResponderExcluir