domingo, 14 de novembro de 2010

Amor e bosta - um prato cheio -


O meu amor é como um cuspe;
Vem de dentro pra fora
Abre a boca;
Bebe da saliva o meu amor.

Que gosto tem a refeição passada?
O passado que não virou merda,
Ainda faz mal –ao estomago-
Logo mais ele desce, ralo abaixo.

Encho a boca de merda mais uma vez,
Como o amor, o amor me come.
Por fim, viro bosta como ele.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

a.m.p.m

E se formos pensar direitinho: É, ja foi. Não há tempo no espaço.
É vácuo, é tudo vago.
Porque esse tempo aqui, agora, já passou, percebeu?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Iguais

Ela filosofava frases para despertar não somente o intelecto da outra, mas para si, reconhecendo metaforicamente a evolução cujo havia aprendido com um ou dois livros recém editados. E principalmente, para esbanjar algo, de preferência nunca exposto.
Não bastava apenas consecutivos ensaios, perderia a voz, de tanto se repetir. Tampouco tornar-se-ia redundante, ineficaz e escrava da insegurança mútua alheia. Apenas podia falar.
Abrir o vetor fonético que, sem muita dor física, resolveria parte dos problemas, apontando-a às mágicas soluções. Expor a vanguardista que é.
Tomando inúmeros fracassos como exemplo, teria o sucesso de maneira fácil e soberba. Mas não  foi assim. Quer dizer, não será assim. Como saber?
Mesmo cobrindo-a de filosofia barata, estilhaços de declarações, versos piegas ou mesmo a doce ignorância, torna-se neutra diante de tanto silêncio, jogado de forma diferente -é evidente- com desculpas já usadas.
Embaixo de toda essa neve, há dois corações, eu espero.

(...)

Não tenho nada sobre a cabeça que não seja o céu
Não tenho nada que sustente os pés que não seja o passo
Nem o amor de Maria, tenho certeza que é meu.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

C.P.

Os versos que cantas antes de dormir
Despertam a mim feito gelo na cara
-Suave como a parede-
Menino durão com cachos na cabeça;
Um nato do sarcasmo introspecto
Perdido no infinito, es mesmo um fodido.
-E como previ, pensas de fato, em mim-

domingo, 1 de agosto de 2010

Uma pitada astro-lógica

À aquário dou-me a liberdade completa de extravasar. De pular de cômodos beirando travesseiros póstumos um ao outro. E de ainda mais, enfiar-me em conflitos mais que dolorosos, um pouco a mim.
Tendo a escolha de nunca, jamais, em hipótese alguma compreeder. Afastar a triste fadiga do entendimento. Entretanto, viver apaixonadamente nessa escura visão do que é o quê, e do como será aquilo.
Imaginando e formando planos futuros, maquinar uma projeção futura, mesmo tento certeza de que não será nada daquilo.

O prazer da disputa me ínsita com uma erupção de risos e bem-estar;
Ah, doce soberba! Cá entre eu e mim, é o que de mais puro renasce em nós. A necessidade de ser amada, não a de amar, me tritura no ralo de forma deplorável e excitante, deixando rastros, sim, rastros por onde deixei alguma de minhas palavras. A busca do inacessível está loucamente no meu ''sangue-astro-lógico''.
Que graça teria numa Amélia?

Às garotas que sinto apreso, peço que apenas não me tomem por insensível. Há muito aqui, o suficiente até para todas juntas, só que jamais viveria numa poligamia afetuosa! Então, deixem que somente eu chore, futuramente. Mas hoje, apenas uma aqui deitará, ao meu lado. Talvez não a certa, mas a errada que tanto me acertou em cheio!
Com o medo e a instabilidade libriana.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Àquele meu Pai

Eu sou quem me distingue do senhor;
Com desdouro nos separo, permutando a cada dia.
Mas não me tomo como refugio, não senhor!
Todas as noites eu peço; distância desta maldita genética [...]

sábado, 24 de julho de 2010

Olhar mudo, sem cor e sem dor

Existem mil formas de olhares. Aquele apaixonado, o de repreensão, o ironico, o sagaz, o pedante e aquele.
Aquele que eu nunca soube o que quiz dizer de verdade (...)

Espantava-me a cada segundo, cada vez mais. Aqueles olhos vidrados sob mim, esbugalhados, arrepiantes. Definitivamente, pareceu-me um bicho observando a presa depois de comida.
Ninguém estava satisfeito, foi rápido e cru, ruim e nada excitante.
Assim que caímos na cama, nada foi feito de verdade, mas aqueles olhos me davam uma agonia medonha.
E foi aquela cena que eu nunca pude esquecer: Seus braços esticados na vertical fechando os meus, enquanto eu estava deitada, um peitoral despido e branco...E dois silêncios que não terminavam, só se prolongavam.

Sim, eu senti medo por estar ali naquela hora. Veio-me logo à cabeça, frases ditas pelo meu pai.
Pensava bagunçadamente; ''Porra, o que eu estou fazendo aqui?'', ''Quem é essa menina?'', ''Eu quero ir embora!'', ''O que ela está fazendo?'', ''Eu quero a minha mãeeeee!''

E nada me angustiava mais do que o não-passar-do-tempo. Parece que ficamos naquilo por uma eternidade. Sequer me movia mais, respirava pouco, economizava o ar, queria sair correndo, já estava em pânico.
Quando de repente, ela levantou-se, apanhou suas coisas e me mandou embora, para nunca mais voltar.
E quem voltaria depois daquilo? Por favor.

Os degraes da escada pareciam distantes uns dos outros, passos largos mas cuidadoso para não tropeçar, mãos na parede e pulava sempre os três últimos, antes do próximo andar.
Cheguei transtornada na minha residência depois do acontecido. Parecia que ela me havia feito alguma coisa, em especial à minha mente, além do meu corpo.
Nunca mais a vi, nunca mais fui a mesma também, em momentos semelhantes como aquele.
Aquela fobia do olhar matuto degradante, sem dor e sem cor, me doeu o bastante a ponto de me esconder por um período em recuperação.

Quase... dessa vez!

Ele havia quase me conquistado. Eu gostei, quase de verdade. Eu o beijei...! Não cheguemos a tanto, leitor.
Até, por instantes, como de costume, vi nossos filhos brincarem naquele quintal espaçoso, flores e dois cachorros, que pastor alemão lindo! Ah, mulheres, mulheres...Tão tolas, são vocês!
Gostava do seu cabelo, da sua poesia, do seu toque. E do jeitinho de sorrir! De me fazer gargalhar.
E também do contorno do seu corpo branco definido e magro, mas não gostava dos pêlos.
Era assim, muito almejada uma infeliz ruptura das transgressões que me foram incubidas, desde alguns anos passados -Nunca há tal desconexão por completa, diga-se de passagem-. Sinto pouco por isso.
Porém, era real. Logo, igual. Oh, merda! Eu bem que senti o cheiro da testosterona aflorar demais.
Foi satisfatório não sentir meu corpo derrubado e flácido devido às crianças, pedir àquele cachorro infernal para não latir durante a noite. Vê-lo esculhambar meus versinhos de amor, mesmo quando não os escrevia.
Eu poderia dizer 'sim', pela primeira vez. E poderia também, degustar outros ares. Não, não!
Não é seu sexo, é sua alma.

Retardatário

Quando era jovem eu pensava, pensava diferente de hoje.
As partes doem como ferrugem à ranger na pele por qualquer movimento, por mínimo que seja.
Se a mente trabalha; Doe. Se as lembranças me tomam; Doe.
E se tiver a sensação de reviver, um tal djavú que seja; Eu sinto dor, doe um pouco mais.
Se fosse jovem eu aguentaria, faria diferente ontem.
Os velhos cá estão a me apoiar, lavando meu corpo feio e sujo, com resto de comida ao colo, um bigode de leite azedo, jogado no sofá queimado pelo sol de muitas tardes...
-Porra nenhuma de fadiga! (Gritaram.)
-Pera, um pouco mais.
Levantei-me lentamente até outro comodo, o mais próximo, deitei-me noutro lugar, até ontem, um pouco mais cedo que agora.
-Amanhã... Amanhã, eu prometo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sem título

Só à noite tenho o privilegio do pensar
Nas arestas das paredes que me encosto;

Sinto pena dos menores que vagam dispersos, assim como eu
Dos amores que por dentre as flores murcham fácil, assim como nós
Das ressalvas que me implodem às pressas, assim como fui
Das mulheres que partiram enquanto eu as lia, assim como muitas

Vejo meus sapatos imundos correrem;
Por mato, lama, e chuva. Parados.

Só à noite tenho o desagrado de lembrar
Que meu coração não morreu, ainda bate...

Vívido e voraz cantarolando as curvas
Impressas do papel dobrado e reutilizado.
Folhas estas, já escritas no lixo em que joguei.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Cingir dos braços

Que clausura que me dá esse apertado! Que no segundo próximo já se desfaz, depois de séculos a esperar. E no mesmo, cabe o peso dos meus braços, afaga e alicerça minhas fobias.
-Quando assento meu rosto no teu colo de presente a mim;
Me espalho nesse emaranhado sem me mover.
Te seguro com medo de machucar, me machucar.
E encolho-me insegura neste martírio...
...com pressentimento que vou voar ou mesmo cair...
...Mas se eu cair, cairei dentro...
...Dentro do seu abraço outra vez!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Seis primaveras

Eu vivo num tempo que não é o meu
Vivo no espaço dos caminhos teus
Escuto um pouco do som da tua nascida
Sendo um tanto precoce eu já me desdigo;

Que é vasto o tempo que nos separa
À mente que persegue a retração ao prazo
Não me condenes por ser ainda uma menina,
Eu apenas cheguei com seis primaveras de você

Não se pode imaginar o perder antes do ganhar
Sem ser viável nos lençóis quentes dos corpos
Provando que eu supero a experiência das palavras,
E triunfo no pódio do ser-sentido

Numa primavera distante
Eu vejo teu rosto sorrir ao meu!
Fazendo careta de velhas facetas,
Que trocamos por desejos implícitos...

E num engano ambíguo caminhando nos versos
-Afastando-me um pouco das suas verdades-
Cantado e riscando baixinho seu nome num canto,
Eu grito e escrevo que Eu quero Você!

Sem nem querer saber o por que...

sábado, 27 de março de 2010

Nostalgia resignada

Que saudade que eu tenho!
Da tristeza de pensar em não sonhar
Da presença com ausência do teu ar
Dos sonetos que sonhava em escrever

Fugiria se pudesse!
Dos borrados jamais entregues
Da faceta senhuda que me fizesse
Norteando-me sobre o teu chão sudeste

Ai! Que saudade do tempo que nós era a gente
Até mesmo do infortúnio que me fazia crer de fato
Na ternura cujo abriga a censura do meu álibi - o teu abraço-
Fazendo de mim um presídio dos libertos inconformados!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Uno-me

Com um ar regenerado nos pulmões eu grito:
Quantas faces iguais eu leio passar?
Em qualquer esquina há, entretanto, nenhuma de mim

Sequer o espelho consegue mostrar a ambigüidade
Eu sou um protótipo perfeito do azar!
O ensaio que nunca funcionou como o esperado

Vou emendar-me para quê?
Os defeitos me distinguem com ênfase ao social
E as virtudes sempre estão a implodir com alegria!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Soneto de Cortesia

Oh poema cruel! Oh distância sofrida!
Um contato tão perto, mas tão longe...
Dois abraços que se abraçam com os olhos
Duas bocas que se falam com o medo

Oh timidez ingrata! Oh saudade redonda!
Que irrita minha cama nos dias que não a vejo
Rosam minhas maçãs somente ao ouvir tua voz
Tortura-se aqui uma paixão a nascer com medo

Como um broto que delonga frutificar os sonhos
Mas cada dia melhor e mais bonito!
Saudando boa noite ao suspirar galantemente o seu nome

Pois sendo assim; Eu, gatuno do sentimento alheio,
Recebo como cortesia a minha mesma a ti
Prestigiando-a com meu maior pecado.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Um tanto de verdade

Eu não preciso sentir dor para saber que ela existe,
Basta viver assim, sem repreensões.
Eu não preciso provar que eu também sei chorar,
Somente para igualar-me a certos conceitos de sensibilidade.
Eu não preciso morrer para me sentir um tanto morta,
Basta ler-me nestes dias que se seguirão...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Presente saudade

Não ando triste ou chorando pelos cantos
Só passeio pelo corredor num debulho de lágrimas e planos
Que escorreram de forma estúpida e consoladora.

Não enxergo coerência na minha opinião
Nem me agrada o espelho ter a razão.
Usando velhas falas pra dizer, velhos nomes pra sofrer
Coisas passadas, passadas teimosamente.

Não ando tremendo ou soluçando na cama
Tenho o costume de levar a mão a boca nessas horas...
Só sinto a falta do peso que havia nela
Um peso que tem nome e talvez nunca mais deitará lá.
(Falta-me o frio no pé da barriga...)

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Contínuo do mal-acabado

A fonte que secou, o amor proseou desgastante, minha blusa se fechou às mãos delicadas e as bochechas, ah! As bochechas em minha face relaxaram.
Vou buscar um violão e recompor minhas canções, tão zoadas e mal acabadas, tudo e um pouco mais, excepcionalmente por nós. Quem tem a letras mais bonita, pode redigir?

quarta-feira, 3 de março de 2010

Meu verso é caro...

E não estou para poesia barata.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Em linhas

Eu queria ser um texto, uma mensagem ou poderia ser só uma frase. Uma frase bonita, carregada, lembrada, um memorial. Melhor dizer, um poema! Artigo, sujeito, verbo e ponto final. Pra dizer através das metáforas o que eu sinto e o que eu vejo, mas não sei falar em palavras, oralmente, publicamente.
Quem ousasse me escrever poderia saber um pouco de mim, ver através dos meus olhos, sentir aquelas ousadas sensações, amar quem amei e odiar a quem odiei, mas assim, ficaria confuso como eu. Teria que ler-me por completa antes de redigir-me, totalmente despida. No entanto, perderia a chance, tornar-se-ia então um louco. Um louco como eu. Um devaneio em linhas a procura de um escritor.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tum-Tum-Túrbido

Guardei tanto um amor a fim de embriagar-me num copo em tuas mãos, que perdi o endereço da rua onde fica o teu bar. Sei que há cadeiras para esperar, sei que há mesas para apoiar os cansados cotovelos de aguardar, sei também que há outras moças em tantas mesas por volta do teu tão famoso bar. Mas não sei se ainda tenho tempo para perder aqui. Álcool já me faz tão mau, amor já me desdém, cigarro nem vou falar, que além de acinzentar mais ainda meu peito, embaça cada vez mais a minha visão [...]

Segurei um amor para desorientar. Não sofro hoje por este motivo, talvez, por motivo nenhum. Penso então, se há sentimento aqui. Vai ver que há, mas acoplados uns nos outros passam despercebidos.
Então, o que é a dor? A dor que dói é subjetiva, psicológica, relevante. A dor que se sente é a dor de idéia, objetiva, concreta. Qual a imagem que forma na sua mente quando se ouve dando ênfase na fonética da palavra Amor? Ah, amor! Será comida? Lugar? Será um país? É. Pode ser, depende do lado em que se encontre o individuo. Alimenta, reside, adota. É, tanto faz.
Quis tanto que hoje nem quero mais. Nem querer. Nem pensar em quere querer!
Mas tenho em mim, um amor tão grande, que nem seria necessário não desejá-lo.
O impossível é não cultivá-lo. Mesmo que em segredo.
Seguro um amor para seguir desorientada, sem nexo, sem chão. Sem entendê-lo. Totalmente leigo.


''O amor não é só uma sequência de beijos, amassos no entrelaçar de pernas. É um túrbido formigamento no corpo junto a três ou mais adjetivos positivos.''
-Eduarda Ramos

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Erotismo

Mas parecia o mar;
Cabelo molhado, corpo suado
Vindo e indo, trouxe um desconhecido,
Muito Prazer. O próprio.

O mel que caí na minha boca é o doce de uma mulher.
Range o nervo rígido, sensível em sua extração,
Na boca de outra qualquer.


Era apertado o canto que procurava
Num emaranhado de líquidos
Ao mesmo tempo um acolchoado confortava-o,
O cercando por todos os lados.
Prisioneiro então, do recanto das sensações
Agora, Eu, emissora dos prazeres apresentados
Manualmente, paulatinamente.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Dezoito em Vinte e oito

Acordei na mesma cama de todos os dias, mas...
Comi uma comida melhor que as datas passadas
Abraços, beijos, presentes, felicidades!
Hoje é vinte e oito de janeiro, o meu dia.

A celebração da minha maioridade...
O melhor beijo que podia receber
O melhor abraço que anualmente ganho
Mãe, Amigos, Colegas, Namorada, Eu amo vocês!

[...]

Amanhã comer o velho sanduíche de queijo com presunto,
Dormir no velho colchão no beliche superior
Brigar com minha irmã, gritar e reclamar de tudo
Quem liga?! É tudo tão feliz assim mesmo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Tiquetaquear vitalício

As horas seqüenciam-se tão depressa que passaram por mim assim tão despercebidas. Quando vi já estava aqui, diferente, irreversível, majoritária, moldada. Os cabelos crescem apressurados e mudam-se as formas, o contorno suavemente do rosto, as mãos não são as mesmas, as marcas agora cicatrizes, o peso, a voz, o jeito, as idéias. Tudo muda em prol de datas, anos, horas (...)

Fazer dezoito anos é sempar! Como também são ímpares dezenove, dezessete, dez. A única e seqüencial diferença são os rumos, que o tempo custou a levar por nós.
A redenção ao tempo é o clamar do desviver dia após dia imaturo. Há tempo para os frutos. Acordar um dia de manhã e recolher cada grão pelo chão é ressurgir. Saber lidar é testilhar o itinerário que recebemos.
Ah, os dias! Que decorrem através dos anos que se abatem sobre nós, jovens. Mulheres vaidosas batalhando contra a gravidade com o calendário. E eu aqui tão desgraciosa em dar importância a um simples detalhe do tiquetaquear dos meus ouvidos. Quis tanto achar a independência que nem sei mais se pretendo continuar essa busca, bruscamente como andava. Calma, há tempo... Há tempo de sobra dando sopa por aí. Mas cuidado, que se afastar tão depressa dele pode desmerecer-se do êxito. Paciência.
Sobreviver ao tempo é seguir ambos os pés numa linha reta e áspera, jamais como estúrdio, desacautelado. Apenas atilado, circunspecto, sengo, sisudo. Que o outro lado é breve e digno a todos.

sábado, 23 de janeiro de 2010

ACS-1974

E se eu sair e largar tudo por um passeio no seu carro, avulsa por aí desgovernada, só nós duas. Estrada a fora sem regras ou terceiros, nada que impeça a nossa fuga. Não precisa voltar atrás nem dizer que aceita ou vai, basta a porta aberta, que eu entro. Não bastariam palavras, frases ou frescuras, nada iria ser dito. Eu entro vestida e estampada às cores que te vier em mente, nem me importam quais sejam ou se não há nenhuma, mesmo sem, eu vou. Enrolar cada cacho do cabelo em meus dedos, círculos em minhas mãos, cheirando-a, guardando o odor para sempre na pele, mergulhar no abraço quente de uma mulher de trinta, no banco detrás seria o meu lugar. Deixar seguir reto ao volante só enquanto me despeço pela primeira e última vez, de quem nunca parou aqui em frente.
Juro ficar calada, não dar nenhum piu sobre o acontecido, então se quiser passar mais tarde aqui, é só tocar. Não há orgulho, nem ego que aflore. Mas, se eu passar da porta de outra moça e a porta do seu carro estiver fechada, eu fujo ainda assim, sozinha a caminhar por aí, talvez eu volte, mas não seria eu... Seria você fugindo de mim. Assim louca, assim insana, assim perdida, assim tão você. E voltaria, atrás de um carro pra pegar você, ali na esquina.
*Aos meus quase dezoito nem sei se vou ganhar ou perder-la assim tão breve, aos seus trinta e pouco já se sabe que ganhar é perder em conjunto, quão perder é um ganho individual.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Mas irresoluto não há!

Quando me lembro do ar quente que saía do corpo dela à queimar o meu... Quando minha mão seguia a silhueta daquele corpo pálido e suado... Ou quando os olhos se fechavam ao sentir a emigração do tato. Assemelho ao dilúvio que lá fora cresce, como aqui dentro encharca enfurecidamente.
Há uma dolência que mora em mim, e lembrar a trás de volta, mas e outra vez. A notoriedade até então posta por mim, talvez não tenha fundamento, ou tenha, e ao lembrar fecho os olhos mas uma vez, esqueço os erros. Por que então o martírio antes da hora? Se é que essa hora chegará. Deixe que essa tribulação se instale cá onde estou, conviverei bem com a mesma, assim espero. Já me conformo com duas pernas enroladas num lençol de seda, apenas duas, uma por cima da outra tramando uma algazarra individual fisicamente bem disposta. Uma quimera formulada para saciar-me em vão. Como se cada devaneio ali pudesse de alguma forma substituí-la. Como disse, em vão. Perder-me em diversas abstrações já se tornou comum, acho até que gosto. Vou deixar então partir a pusilaminidade que me toma em ira a qualquer linha torta que encontro no caminho. Farei um círculo na mesma com o dedo do pé, quem sabe um desenho, até a frouxidão amadurecer. Quem sabe eu a imite.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Paranóia

Nem sei mas se é loucura, paranóia, doença ou apenas ciúme. Ando tão possessiva às coisas que considero minhas. Desequilibrada seria o termo perfeito para descrever-me insegura.
É como uma bolhinha de sabão voando por aí, sempre temos a esperança de pega-la com as mãos, como se ela não fosse estourar.
Dói tudo, e o que nesse pacote mas incomoda é o medo de não ser mais quem eu sou. Não consigo fazer nada, nem escrever -que tanto gosto-, os poemas, os textos, não saem mas, acabou a minha inspiração. Estou de alma perturbada. E de repente me acalmo, vejo os danos e nem assim sei consertá-los, às vezes tento sem sucesso.
Eis o depoimento de uma louca temporária. Vivendo de amor e paranóia. Sem dormir, olhos vermelhos, corpo cansado, mas sempre ali! Um dia bom outro ruim, ultimamente sempre a brigar. Saiu à rua, e é imperceptível a minha angústia. Jamais seria descoberta, com exceção em momento de surto, meu ápice desesperador.
''O homem vive em constante descoberta'' -li isso em algum lugar- pois é, me descobri insana. Mais do que podia imaginar.
Agora a cabeça dói, detonei meu esmalte, não há mas unha nos dedos, o ventilador já foi quebrado, a mão machucada e quase o mas importante foi perdido: O respeito. Talvez tenha existido a falta dele em muitas das frases que bateram essa noite/madrugada/manhã, por isso eu me desculpo, pela imaginação que flutua recheada de erros e acertos. Não me desculpo pela loucura que vive de passagem em mim, mas por me deixar levar pela mesma.
* me pergunto se amo demais, e sempre me respondo que amo o suficiente, mas, desvairadamente.
* preciso dormir sem sonhar, sonhar não me faz bem.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ira

É surpreendente o quão certas e pequenas coisas, atitudes, palavras ou mesmo gestos podem tornar-se uma arma a ponto de despertar a ira até então bem escondida, lá no fundo daquela gaveta. A paciência é uma virtude para poucos, felizardo é quem a conserva intacta nesse mundo cão. E o estresse é conseqüência da banalidade individual ou de terceiros [...]

Se uma parede se pusesse a frente dela, por amor a si, correria para longe onde aquela mão pesada e irada não pudesse alcançá-la. Se tivesse uma arma sobre a mesa da cozinha, ela sairia para caçar. Mas no fim, qual seria o resultado se não uma mão esfolada e um corpo no chão? Ficara então no quarto, asfixiando o pobre travesseiro nomeado.
Pra quê procurar culpados se é tudo um círculo. Vão e voltam os mesmos, as mesmas, basta.

* Foi como se estivesse na contramão, eu que sempre era o torto entortei quem me aprumou.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Íntimo

Há dois tipos de garotos por quem me apaixonaria:
Aquele que usa saia e maquiagem,
Ou aquele que escreve poesia.
(Um garoto como eu, Eduarda Ramos)
Mente aqui ao meu coração,
Que de todas as mentiras
A mais bonita é a que jamais será verdade.
(Uma verdade, Eduarda Ramos)

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida ...
(Eu, Florbela Espanca)


Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre ... fantasia ... ou, talvez, sina ...
(A Flor do Sonho, Florbela Espanca)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Sob-mim

Foi-se o tempo em que achei meus defeitos engraçados
Mas já sei onde nasceram alguns deles
Minha herança é mais que genética,
Começou pegando minha mão esquerda
Riscando meu primeiro a b c d

Foi-se o tempo em que meu pai era herói
O Espelho que era meu, e hoje não é mais
Brincávamos de aviãozinho na casa de vovó, e eu voei alto
Tão alto que não enxergo seu rosto,
Quem é, quem foi, quem será

Foi-se o tempo de rebeldia sem causa
Das loucuras em meio a tantas garrafas
Da fumaça que cuspia aos quinze
E comprimidos que faziam voar,
Como no aviãozinho, um pouco mais alucinógeno

Foi-se os medos;
De falar, fazer e ser.
Da porta do guarda-roupa aberta à noite
Do Fred estar debaixo da minha cama
Da minha boneca ser possuída e me matar dormindo

Foi-se a filha dos meus pais,
Que só recebe um abraço dia vinte e oito de janeiro,
Um sorriso quando a piada não é sua,
Dona da carapuça que engana os vizinhos
Em prol de não envergonhar ninguém,
Nem papai nem mamãe.

Foi-se enfim/ o tempo cair sobre mim/ em que não tinha voz
Agora ser / alguns palmos ao chão, seriam sete / sob mim

sábado, 2 de janeiro de 2010

De porre no mar

De longe parecia um Oasis a se refrescar. Algumas manchas embaçadas brancas no escuro pulavam ondas por superstições comuns nessas datas festivas. Mas eu quis adentrar por paz e desvario. Afoguei a cabeça na água salgada, o cabelo avulso boiava por lá, foi-se o dinheiro e o celular, os braços abertos abraçaram o mar. Sentindo todo o conforto que era a inexistência do mundo, mesmo que por um segundo, foram afogados os problemas do ano inteiro. A mente entorpecida quase perdendo os sentidos, sentindo a sonolência causada pelo álcool reinar. Quase adormecendo lembrei de retirar a cabeça da água e de respirar, enquanto duas ondas me atropelavam de surpresa, puff, mais um mergulho. Dessa vez forçado.
O mar é malvado. Por instantes não me deixou ficar ereta. Quem está atrás de mim? Alguém me empurrou!
Tropeçando no nada cambaleei até a areia ,vesti a roupa antes que o frio se abatesse à pele úmida ou morresse afogada. A vista não estava boa, vultos e embaço a frente. O vômito já se fazia dentro de mim, já sentia enjôo, e as lágrimas surpreendentemente também formavam-se.
Entretanto, a voz não falhava: Mais vinho, por favor! Feliz 2010!