sexta-feira, 30 de julho de 2010

Àquele meu Pai

Eu sou quem me distingue do senhor;
Com desdouro nos separo, permutando a cada dia.
Mas não me tomo como refugio, não senhor!
Todas as noites eu peço; distância desta maldita genética [...]

sábado, 24 de julho de 2010

Olhar mudo, sem cor e sem dor

Existem mil formas de olhares. Aquele apaixonado, o de repreensão, o ironico, o sagaz, o pedante e aquele.
Aquele que eu nunca soube o que quiz dizer de verdade (...)

Espantava-me a cada segundo, cada vez mais. Aqueles olhos vidrados sob mim, esbugalhados, arrepiantes. Definitivamente, pareceu-me um bicho observando a presa depois de comida.
Ninguém estava satisfeito, foi rápido e cru, ruim e nada excitante.
Assim que caímos na cama, nada foi feito de verdade, mas aqueles olhos me davam uma agonia medonha.
E foi aquela cena que eu nunca pude esquecer: Seus braços esticados na vertical fechando os meus, enquanto eu estava deitada, um peitoral despido e branco...E dois silêncios que não terminavam, só se prolongavam.

Sim, eu senti medo por estar ali naquela hora. Veio-me logo à cabeça, frases ditas pelo meu pai.
Pensava bagunçadamente; ''Porra, o que eu estou fazendo aqui?'', ''Quem é essa menina?'', ''Eu quero ir embora!'', ''O que ela está fazendo?'', ''Eu quero a minha mãeeeee!''

E nada me angustiava mais do que o não-passar-do-tempo. Parece que ficamos naquilo por uma eternidade. Sequer me movia mais, respirava pouco, economizava o ar, queria sair correndo, já estava em pânico.
Quando de repente, ela levantou-se, apanhou suas coisas e me mandou embora, para nunca mais voltar.
E quem voltaria depois daquilo? Por favor.

Os degraes da escada pareciam distantes uns dos outros, passos largos mas cuidadoso para não tropeçar, mãos na parede e pulava sempre os três últimos, antes do próximo andar.
Cheguei transtornada na minha residência depois do acontecido. Parecia que ela me havia feito alguma coisa, em especial à minha mente, além do meu corpo.
Nunca mais a vi, nunca mais fui a mesma também, em momentos semelhantes como aquele.
Aquela fobia do olhar matuto degradante, sem dor e sem cor, me doeu o bastante a ponto de me esconder por um período em recuperação.

Quase... dessa vez!

Ele havia quase me conquistado. Eu gostei, quase de verdade. Eu o beijei...! Não cheguemos a tanto, leitor.
Até, por instantes, como de costume, vi nossos filhos brincarem naquele quintal espaçoso, flores e dois cachorros, que pastor alemão lindo! Ah, mulheres, mulheres...Tão tolas, são vocês!
Gostava do seu cabelo, da sua poesia, do seu toque. E do jeitinho de sorrir! De me fazer gargalhar.
E também do contorno do seu corpo branco definido e magro, mas não gostava dos pêlos.
Era assim, muito almejada uma infeliz ruptura das transgressões que me foram incubidas, desde alguns anos passados -Nunca há tal desconexão por completa, diga-se de passagem-. Sinto pouco por isso.
Porém, era real. Logo, igual. Oh, merda! Eu bem que senti o cheiro da testosterona aflorar demais.
Foi satisfatório não sentir meu corpo derrubado e flácido devido às crianças, pedir àquele cachorro infernal para não latir durante a noite. Vê-lo esculhambar meus versinhos de amor, mesmo quando não os escrevia.
Eu poderia dizer 'sim', pela primeira vez. E poderia também, degustar outros ares. Não, não!
Não é seu sexo, é sua alma.

Retardatário

Quando era jovem eu pensava, pensava diferente de hoje.
As partes doem como ferrugem à ranger na pele por qualquer movimento, por mínimo que seja.
Se a mente trabalha; Doe. Se as lembranças me tomam; Doe.
E se tiver a sensação de reviver, um tal djavú que seja; Eu sinto dor, doe um pouco mais.
Se fosse jovem eu aguentaria, faria diferente ontem.
Os velhos cá estão a me apoiar, lavando meu corpo feio e sujo, com resto de comida ao colo, um bigode de leite azedo, jogado no sofá queimado pelo sol de muitas tardes...
-Porra nenhuma de fadiga! (Gritaram.)
-Pera, um pouco mais.
Levantei-me lentamente até outro comodo, o mais próximo, deitei-me noutro lugar, até ontem, um pouco mais cedo que agora.
-Amanhã... Amanhã, eu prometo.