terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Fluido aquoso apresentável

Num único cuspe entrego a identidade que circula pelo meu corpo, dos pés a cabeça. Como num círculo vicioso e vitalício, único e sustentável, primordial. É a parte ingerida do mundo, outrora posta a vista grossa. São partículas divisíveis que se contradizem ao dizer o mesmo, de tantas bocas que ali estacionam, dialogam, descarregam lamurias. É o veiculo que roda a corda da emoção, os gargalo da garrafa podre tantas vezes, mas é deste modo que a vejo. Quando se funde com caminhos estreitos mistura seu gás com o segundo, sabe-se la um terceiro. Depende de quem se trata. O meu cuspe transmite aflição em sua mescla; às vezes conformismo, mas ultimamente além de hostil, sinto um pouco o gosto do pecado, mas do que nunca, isso acontece quando fica tudo tão homogênio por livre e expontanea pressão.
Seja ela na cara de alguém, no chão, do alto de um edifício, e só saliva. Quem se importa hoje em dia em ter um fluido aquoso aprensentável e moral? Levante a mão.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Êxtase Feminino

Como escrever a respeito de uma sensação intima sentida, até então desconhecida? Fogem as palavras mas possíveis e próximas da minha boca. Não há característica exata ou fixa, muito menos semelhante. ''Sensação única'' -dita por algumas mulheres- O ápice, as vezes o final [...]
É como o resultado de uma mistura mas do que intensa de dois seres, que ali buscam saciar-se. Sendo este estremecedor e inquietante. Primeiro a falta de ar, a busca ao preenchimento dos pulmões insatisfeitos, a fuga astuta do oxigênio. Depois o coração, que bate tão forte a ponto de sentir a falência do pobre órgão, que só avisa a chegada à sensibilidade. Em seguida as pernas, que parecem tão fracas e imprestáveis por não se sustentarem eretas sequer por um minuto, naquele instante. Tremulas ou bambas, as vezes dormente, mas sempre ali, quase inerte a capacidade de locomoção. Senti o corpo cair ao lado, agonizando ao êxtase feminino, ensurdecendo a própria voz, querendo na verdade gritar, gritar alto. Pensando em voltar à brincadeira, mas era impossível um movimento ao menos. Era muito melhor ''sofrer'' ali ao lado, buscando ar, procurando o caminho do maior prazer feminino, com a mão transpirando em excesso e de olhos bem fechados.

''Mas parecia o mar;
Cabelo molhado, corpo suado
Banhou-se nele até não suportar.
Vindo e indo, trouxe um desconhecido,
Muito Prazer. O próprio.''
(Eduarda Ramos)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Senhora

É como a chamamos hoje e sempre:
A Senhora das palavras do humour e do silêncio
A que já aprendeu e hoje ensina a andar
Pondo-se em prosa e paródia

A quê limitas os abraços
Aos risos incondicionalmente arrasadores?
Renasce sempre a duvida sobre sua feição
Hora nua outrora emotiva, mas quase sempre escondida

A pele já rasga a idade que abate sobre os anos
Ainda assim, estupidamente Bela
Os olhos que dizem ser o ''espelho da alma''
É inútil quando se refere À Senhora
O verde dá um contraste uniforme a meu ver...

Há singularidade nos ambientes circulados por ti, désolé, pela Senhora...
Derramando paixões por onde passou e a de passar ainda
Entre abraços ao inicio e beijos nas despedidas

A senhora do esconderijo,
Por trás de um sorriso ou atrás de livro antigo
Mesmo sem querer, se apresenta não tão bem quanto deveria...
Mas o suficiente para renascer numa poesia, mais uma.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Poema: Te olho nos olhos...

Te olho nos olhos e você reclama
Que te olho muito profundamente.

Desculpa,
Tudo que vivi foi profundamente...
Eu te ensinei quem sou...
E você foi me tirando...

Os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre,
Não importava o que os outros dissessem.

Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade...
De me inventar de novo.
Desculpa...se te olho profundamente,
Rente à pele...
A ponto de ver seus ancestrais...
Nos seus traços.

A ponto de ver a estrada...
Muito antes dos seus passos.

Eu não vou separar as minhas vitórias
Dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim;

Nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.
Eu quero estar viva e permanecer
Te olhando profundamente."
(Te olho nos olhos, Ana Carolina)


Quais palavras existentes e decentes
Que poderiam sair da minha boca a ponto de ser suficiente
para descrevê-la perfeitamente? Não existirá jamais,
Um humilde verso, ou uma música para servi-la.
Nem o maldito conceito que abrigou o meu amor,
onde o descobri incondicional e completo...
Há sempre mais a sonhar, a interpretar, e a cantar com você.
(À Ana Carolina, Eduarda Ramos)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Poeta vagabundo

Não sabe fazer nada com os dias
Nada faz além de gastar papéis e tintas,
Nem mesmo um poema seja triste ou de amor
Não há palavras, rimas, ou fatos a serem descritos
Não há sonhos, amores, ou medos infinitos pra serem vividos

O que se lê não é mais que preto e branco
As cores são como pigmentos a marcar as faces do mundo
As tipologias escritas pelos poetas vagabundos
São como um marco ao ápice da incompreensão
Deles e de terceiros

O que se vê não é mais que um buraco
La dentro, no fundo, é poema de sentimento
Preferindo não despertar ao próprio
Talvez não queira descobrir se é 8 ou 80
Já basta a mescla confusa que se tritura ao peito

Talvez o sol nem chegue mais aqui
Tudo escuro, tudo singular, o poeta vagabundo
Vive dentro dos sonhos, do idealizado, de mim
Lá se expressa, entende e firma-se
Aqui é o oposto, não há vantagens nem garantias

Só os restam leitores leigos as idéias deles,
Amores tardios renovando-se
Amigos que desaparecem como fumaça
Pó e cinza no chão...

Quer um cigarro e uma garrafa à mão
Somente assim pra entrar de vez no que se vê
E mudar ao menos uma vez o que se lê.

domingo, 20 de dezembro de 2009

...

Uns dizem que amar é uma dor
Outros dizem que amor é tão amar quão sofrer.
Li uma vez que amor era divino, e às vezes sacrificante...
Ouvi dizer que amor é um conjunto de adjetivos belos,
E que todos têm o dom de obtê-lo.
Tem até quem fale que não há dor mais gratificante...
Eu digo que morrer de amor é  morrer sorrindo,
Estou morrendo, estou gargalhando.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O incomum

O diferente suborna a tradição
A ponto de a travessia ser longa e medonha
Curvando-se aos veteranos comandantes da prisão

Arrancaram-lhe as orelhas ensurdecendo ao mundo
Fendas atadas furtavam-lhe os desejos
O único barulho que soava eram os soluços equivocados

O que restou de fato foi apenas a inteligência do garoto
Ninguém poderia roubá-la ou torturá-la
Usava-a para medir, idealizar, e penalizar-se

Cresceu e se tornou um homem
Podia não ter sentido algum, mas logo iria acabar -ele pensava-
Quando tudo terminou quis recomeçar,
Pulou a janela para graduar-se como mais um incomum.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dois corpos

Eram duas camas, uma ocupada por dois e outra assistindo ao espetáculo.
O corpo já estava quente, tão quente que esfriava a cada segundo que passava sem alteração no comportamento de noites como essa. Um ao lado do outro, o da esquerda intocável por um intervalo modesto de tempo para inércia, descanso, reflexão. A mão que passeava pela própria barriga, sentindo o ar entrar aos pulmões e elevá-la para cima e para baixo, como ambos os corpos fizeram alguns minutos atrás. Um ritmo inigualável e harmônico, incansável e molhado. Além de quente, sentia-se o suor derramar de um para o outro, como na troca de uma substancia química de relação espontânea. Um odor insinuante pairava sobre o quarto escuro, quase invisível, que guiavam as mãos cegas por caminhos nunca encontrados até então. Perderam-se no caminho, ou jamais queriam voltar ao inicio. Dois dedos desenhavam circunferências nas entocas, hora rápido, hora devagar, hora adentro. Sempre a gosto do parceiro. Certidão de companheirismo. O corpo a direita flutuava longe. Como se nada feito ali tivesse acontecido. A pausa era para a discussão, o nome de um terceiro circulava a história. Atormentava, para melhor esclarecer. Perguntas, silêncio. O da direita acusava, apontava, punia e castigava com chantagens emocionais não tão baratas assim. Cujas palavras roubaram da noite o seu encanto quase que por completo. O da esquerda ouvia, sentia, mas não ousava falar, quem sabe, talvez não tivesse realmente nada a ser dito. As costas se encontraram cada qual por uma razão. Ficaram ali mais alguns minutos em silêncio. Uma piada solta pra romper o clima pesado não foi tão eficiente. A solução era dormir, ao menos nos sonhos daria certo. Talvez alguém quisesse chorar, ou gritar, bater, empurrar, mas nada foi feito. A porta continuava fechada, o escuro também, o silêncio deu lugar a outros sons, mas confortáveis. Os dois corpos outra vez se atacaram, dessa vez um minuto foi necessário para resgatar todo o fogo que esquentavam ambas as almas carentes por atenção e abrigo. Ocorreu um atrito mais violento, machucando mas embaixo. Litros eram preparados pelos órgãos para expulsa-los dentro um do outro. E assim, sentir o gosto do prazer na língua: O da reconciliação. Os dois não se encontravam mais em posições paralelas. O da direita estava por baixo e o da esquerda por cima, cruzando-se entre si e trabalhando, dirigindo a 120 km/h quase sem ar, fatigado do segundo tempo.
Termina a brincadeira. Abrem a porta, já era dia, calam as bocas e um deles adormece enquanto o segundo observa-o sonhar. Imaginando e modelando uma proxima vez. Quem sabe na mesma cama, quem sabe na proxima semana.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Último adeus

Não pensei que fosse tão difícil sair da escola. O dia do término por completo das aulas, na Aula da Saudade, festa de encerramento do ano letivo, o nosso último ano no ensino médio.
Não sabia se chorava ou se sorria. Um mundo de sentimentos misturados tomaram conta de mim: perda, saudade, solidão, amizade, amor, carinho, admiração.
O CPM foi um lugar onde eu aprendi muita coisa. Onde eu não fui discriminada por ser quem eu sou, na verdade, não me escondi dessa vez. Eu tão diferente, me achei igual. Igual a todos, pois ninguém ali me tratou diferente. E isso é o que mais contou pra mim. Ver que não interessava de onde eu vinha, em que bairro eu moro, de certas condições que eu fiz. A única coisa que importou foi a presença e o afeto que eu tive e tenho por todos ali. Sentado em cada lado meu estavam aqueles que fizeram do meu ano, ser o mais especial possível, o mais foda e inesquecível. Não foram apenas ''amigos'' que eu fiz, que conheci, foram pessoas maravilhosas que eu queria tanto, mas tanto tê-las comigo por mais um tempo, quem sabe eternamente. Pra continuar me ensinando e me guiando pelo mundo. Por incrível que pareça, eu sou notava no Colégio da Policia Militar, meu primeiro e último ano, e alguém notou isso?! Parece mas é que conheço todos ali há anos e anos! Isso pra mim é o mais o importante, não a questão de anos, mas o sentimento que ficou por cada um deles ali. Não falo apenas de alunos, meus colegas de classe, mais também dos professores. Foi por alguns deles que firmei a minha profissão. Eu não tinha certeza do que iria fazer, medo de escolher a coisa errada. Mas hoje, fim de ano, pré e pós vestibular, vejo que não existe coisa mais EU do que cursar Letras. Vou levar algumas características de cada um deles para a formação do meu caráter.
Duvido muito que eu vá me arrepender. Duvido muito que eu não vá me esforçar, e ser quem sabe, como eles, meus professores.
Foi impossível não chorar, acho que estou até agora chorando. Por dentro e por fora, eu tô chorando agora! Meu Deus sou eu mesma? Rs. Acho que essa mudança de fase está mexendo com meu emocional comum [...]
Vou fazer 18 anos no próximo mês. Fui aprovada na Unicap em Letras e agora, sou ex-aluna do CPM. E agora? Será que eu vou ter a chance de ver meus amigos crescerem junto comigo? Eles sempre somem. Eu espero que sim.
Esse ano então foi o mais importante na minha vida. Não só pela escola (foi um dos principais) Mas por mim mesma, vejo que cresci tanto, não sou mais uma menina.
Me re-apaixonei, briguei, gritei com meus pais, tirei e causei cabelos brancos deles/neles. Não me torturo mais com ideologias alheias, criei a minha própria. E independente de ser politicamente correta ou não, eu vou ser feliz, eu sei.
Enfim, passei por momentos tão difíceis anos atrás, talvez se não fosse por algumas coisas que me falaram, e me mostraram, eu não estivesse aqui hoje. Talvez eu tivesse desistido de verdade. Mais como eu estou, eu desejo a todos eles! Não me limitando apenas aos alunos da turma G-3, mas, a todos os concluintes do colégio. Sucesso, paz, e muita sorte! Eu quero encontrá-los formados, felizes, e com o mesmo jeito de ser. Digo o mesmo aos professores, que merecem uma Salma de palmas minhas e dos demais, é dureza aturar aluno, ainda vou descobrir o que é isso.

Um grande e apertado abraço!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Os versos que te fiz *

Deixe dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Tem dolencia de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !

Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !

Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.

________________________________________

Beijas-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...

________________________________________

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
(Florbela Espanca, Livro de Magoas)

 
 
Quem me dera ser metade do lirismo dela.
Esculpindo meus versos a um espelho imperfeito.
Clamando a dor, ela contribui a todo o resto.
(Eduarda Ramos, À Florbela)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

03:01am

Meu bem, depois da carta vem muito mais
Que desenhos e poesias,
De onde veio foi-se o caos [...]

O transtorno latente trás lembranças
A cada poente vadio que assisto mudar de cor.
A pele expulsa a calmaria marota que doma a prosa
Ao seguir quase sempre em meia-volta.
Eu já nem sei, meu bem, se realmente há uma simbologia
 Que descreva o meu au revoir,
Caso haja algum pressuposto a se declarar: Désolé!
Castro o doce ao persuadir o bom caráter.

O sonho é teu, porque pede uma súplica constante.
Vai meu bem, por mais uma noite, insista!
Eu sou mesmo é sado masoquista [...]

03:09am

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

De quem escreve, para quem lê

São curtas as palavras mesmo não aparentando, estão apenas camufladas por sinônimos e um falso auto-plágio, mas seus significados são deveras extensos, por tantas linhas complicadas, acompanhadas e vestidas sempre por metáforas, sendo este um dos causadores da confusão que o leitor encontra.
Composto por uma mistura bem dividida, frações de um Recanto, sendo estes lidos em tempos diferentes não mais seria possível lembrar-me do momento, do pensamento, a quem ou a que se originou. É tudo tão vão. Não me sinto escritora dos meus próprios escritos, é um desproposito peculiar e intrigante.
Nem mesmo leio depois de divulgado. Exceto pouco depois de sua formação, claro. Atrás das falhas, dos erros (não gramaticais), mas da simbologia contida e escondida entrelinhas de paralelos significados. Nem tudo aqui é para ser por inteiro degustado, compreendido, analisado, nem para levar na alma, deixe tudo no lugar quando sair. Para que terceiros também os critiquem.
Os escrevo quase que exclusivamente por ansiedade. Não leio, porque não os entendo. Nem poderia. Poderia sim, talvez não queira.
Quais os motivos para continuar então? Também não sei responder. Herança não foi!

Sedentárismo

Sol a pino corre na estrada extensa sobre concreto, é quente: vai lotada e tem curvas, têm pedras, sem paredes, poucas cadeiras. Mas há guias. Leia o mapa. Faça as malas. Muitos sonhos. Vai pesado. Pendura nas costas. Estufa o peito, apaga o cigarro.
Não almeja nada além da vista, que embaça que distorce e dilui aos olhos. Não vê que é escritor. É dadaísta, olhe ele olhar a roda da bicicleta passar parada à face.
Corre que ainda é dia, vai claro vai à sombra, fim de tarde eis de está inerte. Inspirando, respirando. Poluidamente inalando toda a podridão.
Sob o céu narrado como um monologo em bom som. Sendo guia. Fazendo mapas. Sentado, lendo. Apontando, falando. Escrevendo. Num cubo que é a sala.
Corre mais rápido, antes do vômito subir a goela, e antes da tontura derrubar as pernas enfraquecidas (...)
Perde tudo no caminho, perde a mala, perde a voz, perde o ar.
Não há mas fôlego, nem coragem, só há fadiga. Já velho para tanto peso, monta um burro, segui à dois.
Corre, que é agora. Que foi amanhã, será ontem: Sedentário.
Teve dezessete anos, é estudante. Futuro escritor.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Des-acompanhada

Que diferença faz se o carnaval acaba em março.
Nascemos com duas mãos, cada qual para um alguém.
Se sempre quis seguir sozinha, agora ando duplamente apaixonada.
Eu vou sem medo de viver assim, de me condenar assim, de me reencontrar sozinha e tão bem acompanhada, como de praxe.
Então faça-me um favor; Sem medo e sem pudor.
Descobri que não há mais limites nas minhas in-voluntárias ações, Passei a não me importar mas com meu auto disparate...
Eu sei que vou para o inferno de qualquer jeito!
Mas eu quero ir  D-e-s-a-c-o-m-p-a-n-h-a-d-a, por favor.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Espelho côncavo

Por baixo dos panos eu omito detalhes, panos sujos esses, suborno minha sombra corrupta como o reflexo que assisto ficar imundo através dum espelho côncavo, assim, amplia-se a visão, para seguir com as mentiras que saem como um vômito da boca, dos meus doces lábios para os demais, as mais belas mentiras que soam como as mais amargas verdades. É doce. Um doce que derrete sobre os outros, os pobres que seguem com fé a minha troça. Enxergo de longe o estereotipo que vesti um pouco apertado, eu sei, mais coube sob meus pés descalços, com calos, cansados. Meu doce é tão amargo. Posso até sentir o gosto voltar a boca outra vez. Sem cara feia, ele desce queimando na garganta que não é minha. Vá degustá-lo bem devagar para não perder o gosto jamais. Estou indo embora. É angustiante observar-me ao vidro intacto, limpo, transparente. É vergonhoso descobrir o que se é, quando na verdade não se sabe ao certo a qual desculpa recorrer primeiro, como defender-se do espelho côncavo. Cospe na minha cara quem sou. Obrigada pela sinceridade, às vezes não é tão ruim o quanto se pensa. Às vezes pode até ser aceitável, às vezes eu nem penso em morrer.

sábado, 28 de novembro de 2009

Pela janela

Ele tinha um sorriso tão lindo, e ria como uma criança, contagiante, um pouco diferente. Fiquei boa parte da viajem de pé, somente olhando. Ele fazia alguns barulhos estranhos com a boca, a boca que também era um pouco diferente da minha. A mulher que lhe acompanhara pedia que ele fizesse silêncio, e por quase todo tempo passava a mão já enrugada sobre o cabelo preto e liso dele. Nem assim ele se calava. Na verdade, ele não falava. Tentei decifrar os gemidos, que não eram de dor, eram de qualquer outra coisa que sentia, mas eu não consegui entender. Seus olhinhos puxados, sem traços orientais, olhavam de um lado para o outro, fazendo gestos para os demais passageiros, menos para mim. Levantou algumas vezes, tinha uma pequena estatura (quase do meu tamanho) e todas às vezes a mulher o fez sentar. Já era seu ponto, ele e a tal mulher arrumavam suas coisas para descer, mas sua língua continuava a mostra, talvez não porque era muito grande, mas, porque sua boca era pequena demais para ela. Quando ele enfim levantou de vez e esbarrou em mim, derrubou minha apostila do curso. A mulher mandou que ele apanhasse imediatamente –num tom grave e alto- fui mais rápida, ele não era tão ágil quanto eu. Sorri para ambos como quem diz ‘’não foi nada’’ e eles desceram enfim. Logo vi que ela bateu com aquela mão enrugada na cabeça dele e falando algo ao mesmo tempo em que apertava seu braço esquerdo, me senti mal por não ter prestado atenção, e ter deixado a porcaria da apostilo cair.
Será que ela não enxerga como eu? O que o torna diferente de mim? Ser portador de síndrome de down? Sim (...)
No caminho sobre quatro rodas que nos levam, nos apresentam, e encenam ao vivo a vida com único tema: O Realismo. Onde encontro tanta coisa, tanta gente diferente, tantas lições, isso não aprendemos na escola. Fique atento(a) àqueles que seguem a mesma trajetória que você, olhe de lado um pouco, talvez alguém precise de ajuda, talvez você precise. Olhe pela janela do ônibus, que tão rápido passa e desenha as avenidas e as pessoas; eu vejo lixo; crianças puxando carroças com o triplo ou mais do peso que contem seu corpo magro; garotas a venda; rapazes guardando nos bolsos coisas que não lhes pertencem.
Eu vejo o Recife se acabando na mão/a custa dessa gente.
Tudo que você vê sobre duas pernas, é o mesmo que qualquer um pode enxergar, basta olhar um pouco pela janela.

A lei dos descordenados

Caminhava tranquilamente, sobre o amarelo e o azul brilhante;
Pés afastados, em uma sintonia como num desfile masculino.
Ela me olhou, tão maravilhosa, seria possível disfarçar?
Corei, fitei meus cadarços, tentando não esquecer de respirar.
Mudei o andar, um pé de cada vez, como uma mulher.
Eu pude até sentir o gosto do concreto, tropecei, caí.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

À Dayse,

Não há versos mais lindos dos quais foram direcionados a você,
Não há sonho que fuja da realidade que você me trás,
E não há amor desse tamanho, onde o vasto e simplório espaço só cabe você (...)

Não importa para que lado vá o meu pensamento, só sinto que estará sempre por onde você estiver. Agarrado em seus braços.
Eu gosto do seu bagunçado, do ‘’errado’’ que é te ter, do anti-social.
Meus enredos só descrevem a nós; passado, presente e futuro.
Narrando as despedidas já ocorridas, esse exato momento, e os tantos que ainda virão.
Faz 426 dias que pus em mim uma colerinha rosa, tão bem posta em meu pescoço que pelas vezes que retirei sufocada, senti falta.
E a cada dia que se passa eu me sinto mais culpada por ter perdido alguns segundos do meu tempo sem você aqui do meu lado. Não há culpa maior que essa.
Mas hoje, após tudo que aconteceu, eu sinto que não poderia ter feito melhor escolha, não imagino por quais becos estaria me embriagando por ai; procurando respostas, procurando alguém como você é pra mim.
Eu te amo tanto que me tornei a pessoa mais egoísta do mundo, a mais ciumenta, a mais arrogante com seus ‘’amigos’’, por tanto, a mais feliz.
Eu não me sinto apta para escrever um texto romântico, nem mesmo um piegas.
Não sei quais adjetivos e substantivos usar, não sei por onde começar quem dirá por terminar.
Eu não sei mais de nada, desde o dia em que você subiu no meu barquinho improvisado e rapidamente já se tornou essencial.
Também não vou buscar palavras em poemas que não são meus, pois os demais poetas são leigos a tudo que eu descobri (...)

Muitos e muitos anos virão, e aquelas cenas também; acordando, cara amassada, e contigo na mesma cama, sorrindo pra mim, pedindo pra eu não roncar muito alto. E minha voz tão rouca sussurando: ''bom dia amor''  ♥

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Colégio da Polícia Militar de Pernambuco

Pré-despedida,
É certo o fim. Logo diremos adeus, todos nós, uns aos outros. Entre abraços, choros, risos. Claro que as lembranças irão sempre prevalecer aqui, mais com o tempo, como todas as coisas, vão sumindo aos poucos da nossa mente, mesmo sem querer. Somente as fotos ficarão zeladas, sempre rodeada de grandes sorriso
e brincadeiras. Trazendo de volta a alegria sentida naquele instante, sempre que observada.
Quem sabe um dia a gente se esbarra por ai, alguns seguem o mesmo caminho profissional, outros não. Espero que sim. Que nos vejamos pelo menos em dias de festas, mesmo que seja sem querer.
O contato que é sempre prometido na hora do adeus, que quase nunca é posto em pratica, sem culpa. 
Acabou praticamente, já acabou o nosso tempo. O tempo em que eu sei que vou dizer (e ja digo) ''que saudade da época de escola'' quando era tudo mais fácil, mais intenso, e mais irresponsável. A irresponsabilidade é a grande tentação da vida, manter-se nela é apenas passageiro e opcional.
Novas portas se abrem quando esta se fecha. Vamos todos (ou quase todos) começar a talhar o nosso casaco a mão. Linha por linha, fazendo a gola, as mangas, tingido-o, e todo o resto. Cobrir-nos de corpo e alma pelas nossas mãos, vestir o fruto da nossa produção. Nossa primeira produção! Que seja feita então, com tudo que nós aprendemos juntos, com nossos colegas/amigos de classe/vida e nosso Professores/Mestres.
Vamos guardar a saudade na alma, para que fique viva eternamente esta nostalgia do aprendizado e carinho de todos esses anos, e dos últimos meses.

Créditos:
Rhebeca Morais, Rebeca Martins, Amanda Marina, Julyana Costa, Elilson Gomes, Evelyn Azevedo, Lídia Gomes, Príscila Karla, Florrance Ohara, Gerald Aguiar, Hélminto, Stefany, Willian Douglas, Artur Oliveira, Vandson, Luana, Wagner Souza, José J., Leonarado Oliveira, Lidiane, Jorge Souza, Jorge, Edson, Tarciana, Tatiana. (Alunos da turma G-3)
Clério, Gilvan Correia, Américo Canuto, Edvânea Maria, Edmir Souza, Josimar Santana, Flávio Pernambuco, Aldo Bueno, Carlos Alberto, Valmir Freitas, Sidézio. (Professores do CPM)

Essa em minha opinião foi à foto mais bonita que tiramos neste ano. Junto com as outras turmas G's. Foi em nossa última formatura, foi uma festa rs! (e um alivio) cá entre nós, que era um saco ficar lá de pé no sol cantando o hino nacional/da escola.

Aula do Professor mais querido rs, Américo (Biologia), junto com o Monitor mais foda desse colégio: Robson. Só porque ele é o cara!



Dia que fomos a Bienal neste ano
(Lançamento do livro da nossa Professora de Literatura/Redação, Edvânea) Na foto: Rebeca, Eduarda, Tarciana, Hélmiton, Príscila, Elilson.
p.s: ia colocar a foto que tiramos com ela, mais sabe né, ela não autoriza o uso da sua imagem via internet rs, enfim.

NÃO! Nós não somos jovens problemáticos rs. Somos apenas... autênticos.
Fotos bizarras como esta, são as melhores e as que me dão mais saudade, e trazem risos, gargalhadas!
Na foto: Evelyn, Rhebeca, Julyana, Flor, Amanda, Duda, Wagner, e a cabeça de alguém que eu não identifiquei rs.

Foto com a camisa do FERA10
Na foto: Eduarda, Artur, Rhebeca, Edson, Julyana, Rebeca Martins, Amanda, e Elilson.


E claro que não poderia faltar uma das nossas tantas fotos extravagantes. Não é mesmo Elilson? rs. Foi um dia tão feliz esse, ri tanto, até as bochechas doerem. (e as costas também, porque osso também pesa viu!)








'' VIBRE O PEITO COM A VOZ DA VITÓRIA NA CONQUISTA DO NOSSO IDEAL''
(Trexo do Hino CPM)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Vamos com as nossas mãos, moldar o Brasil!

Eu não serei uma ‘’professora’’, serei Professora da Língua Portuguesa e Inglesa. Mas para isso, à vontade, o estudo e a excelente absolvição de conhecimento na área especialmente de Humanas, são fundamentais. Provendo de uma formação do ensino superior de qualidade, para então, poder repassar tudo o que eu aprendi e o que aprenderei a cada dia.
  Cada profissão que será escolhida por nós, tende sempre a um lado positivo em meio à sociedade, basta saber utilizá-la da maneira certa, e coerente. Ainda mais, se for como meu caso: Licenciatura. Tratar direto com o problema do nosso dia a dia, os futuros vanguardas do nosso país, passando para eles o senso de respeito, educação, conhecimento, entre outras coisas básicas da convivência. Ser educador, pai, mãe, psicólogo e amigo.
  O brasileiro em si, parece que já nasce com ‘’o egoísmo na veia’’ vive exclusivamente para o seu mundo, aquilo que lhe interessa, e àqueles que lhe podem oferecer algo de bom, de novo. Quase nunca em prol dos outros, o oposto de ser um Professor.
  Nós, jovens patriotas, queremos um futuro melhor que o presente então vivido, com tamanha bagagem de impunidade, corrupção, e desigualdade. E a minha parte será cuidar da educação de maneira correta e justa para todos aqueles que estiverem ali, nas escolas, sejam elas da rede pública, privada ou mesmo nas universidades.
  Se for o caso de ensinar na rede pública, que trata-se de uma classe discriminada também pelo histórico de alunos desinteressados, péssimos profissionais de ensino (lembrando que a grande maioria responde a isto, pelo salário medíocre que é destinado erradamente ao professor brasileiro, tendo Pernambuco um dos piores do nosso país, em relação ao valor pago), além da falta de estrutura.
Serei apenas igualitária, com apenas um objetivo: Transmitir aquilo que me é e será ensinado tanto pela vida, quão pelos livros. Foi a minha escolha.
  Não quero salvar o mundo, nem fazer promessas como nossos políticos, pois não sinto mentiras em minhas palavras. Tenho somente um único desejo profissional a realizar em breve: poder oferecer a minha contribuição para darmos um passo a frente rumo ao Eterno Brasil do Futuro, que será dos seus e dos meus filhos, junto àqueles que os sucederem.
E você, vai fazer o que?

(Aluna: Eduarda Ramos)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Por: Rodrigo Menezes

QUEM É VOCÊ?

Em momentos tão simples
Não te conheço
Nunca te vi
Mas escrevo sobre você
E isso me faz rir!


Sei que seus olhos são grandes
Sei que seu amor é imenso
Sei que você sabe o que é ...
E isso me deixa tenso


Procuro em multidões
Alguém como você,
Mas se eu não te conheço
Como é que vou saber?

Saber quem é você
Saber como vai ser
Saber quem somos
E pra onde vamos


São apenas perguntas
São apenas respostas
São apenas Duvidas
São apenas questões

Quem é vc?

________________________________________________________

''Em momentos tão simples
Que quero estar com você
Em coisas que já passaram
E que não vou esquecer

Nem te conheço
Mas sonhei com você
Se o amor é cego
Eu mesmo que pago pra ver (...)''

De: Rodrigo Menezes.
Para: Eduarda Ramos.

Com a palavra,
Fico lisonjeada quando recebo coisas assim! Não foi a primeira poesia (?) que ele escreveu para mim, pena que perdi a outra... Ainda estou a procurar em velhos arquivos aqui, espero também que essa não seja a última! rs
Rodrigo, vocalista, 20 anos, compositor, um louco criativo rs.

Um abraço.
Eduarda Ramos.

domingo, 22 de novembro de 2009

* A vida em quatro faces *

''Eu não tinha esse rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo. (...)
Eu não dei por esta mudança,
Em que espelho ficou perdida
A minha face?''
(Cecília Meireles, Retrato)

''Sinto que o tempo sobre mim abate
Sua mão pesada. Rugas, dentes, calva
Um aceitação maior de tudo.
E o medo de descobertas. (...)
Há muito suspeitei o velho em mim.
Ainda criança, já me atormentava.
Hoje estou só. Nenhum menino salta,
De minha vida, para restaurá-la.''
(Calos Drummond de Andrade, Versos à boca da noite)

''Os sonhos cobrem-se de pó.
Um último esforço de concentração
Morre no meu peito de homem enforcado.
Tenho no meu quarto manequins corcundas
Onde me reproduzo
E me contemplo em silêncio''
(João Cabral de Melo Neto, Os manequins)

Eu posso apenas deduzir o próximo dia.
Prever meu rosto enrugado e triste defronte ao espelho.
Sentir minha pele seca e insensível quão meu peito é hoje.
Mais não posso escrevê-lo agora,
Talvez seja tudo diferente, talvez eu nem viva tanto assim.
(Eduarda Ramos, Incertezas)

Azobel foi pro mar

Desde garoto Azobel sonhara conhecer o mar
Dizia que ele é tão grande cuja nossa vista não a de alcançar
E não estava enganado a respeito da sua extensão
Sonhara com o cheiro, com a cor, e sol da estação

Todo verão Azobel deitava no quintal da sua casa
Imaginava que na praia ele estava, e prontamente mergulhava;
Mergulhava na fantasia de estar no litoral, capital e o escambal
Sonhara até que pagava uma rodada de chopin pra quem lhe acompanhara

O chefe da segunda-feira pisava nas costas do pobre vendedor
Não era bicho, nem era escravo, era um trabalhador
Seu nome era Azobel, filho do falecido camelô

Um dia ele partiu madeira em sua casa
Os moveis abraçavam as paredes, a louça voava
E Azobel desistira de sonhar, estava decidido a viajar
-Pro litoral eu vou já!

Vendera o tudo que não era nada, ruma à cidade grande
Pusera até sapato novo que'ra pra dá boa impressão
Deixou apenas um recado pro seu José:
-Que o diabo lhe assalte e leve tudo que puder

Muita estrada e pouco pão já era o presente do forasteiro
Que junto a bagagem do caminhão deitava com toda sua ilusão
Pouco dormiu por ansiedade, outrora por buracos que o sacudiam
Fez as malas que por pouco tempo ainda lhe pertenciam

O sol queimava as pálpebras de Azobel
Que logo com um sorriso descobriu o litoral
Quão grande era seu chão quão lindo era seu céu!
O oposto donde havia crescido, descalço em meio matagal

Abriu então seus braços, abriu a boca, engolindo o vento
Que berrava ao seu ouvido como o barulho das conchas do mar
Deixou as trouxas e como uma criança se jogou dentro d’água
Morreu afogado, não sabia nadar.

sábado, 21 de novembro de 2009

Doce apatia

Apesar da bagunça que trago no peito, o perfeccionismo tortura a minha vida.
É tudo tão milimetricamente organizado acima do pescoço, passo horas observando, editando, mudando, para poder consertá-los, quem dera fossem os dos outros, são os meus erros. Olhando todos os buraquinhos na parede, contando as telhas no telhado, as luzes do pisca-pisca que são ao todo noventa e oito dividido em seis cores, separando os cabides uns dos outros a cada três centímetros.
Não há surpresas, não há emoção.
Já é tudo tão premeditado, impossível sorrir.
Já está tudo tão arrumado, não há o que fazer.
Bagunço tudo outra vez, para assim, poder viver.

A arte que cabe em mim

A minha arte é de passagem, que carrego na bagagem já a algum tempo. Ao mesmo instante que ouço, vejo minhas mãos caminharem junto ao lápis sobre o papel, surgem com elas o meu reflexo. A mera semelhança do idealizado, onde inovo velhos sonhos já empoeirados, futuras descobertas, desejos, e medos. Desenhando letra por letra, sendo elas, a expressão do lirismo da forma mais sutil e singular possível.
A arte da comunicação: o ler e o escrever. Conseguindo por esse meio, um tipo de teletransporte para o passado ou quem sabe o futuro, dentro da literatura, alimentando qualquer tipo de sentimento seja ele romântico, realista, modernista. Tendo assim, o poder de vestir os personagens, aprender com eles, e muitas vezes reproduzi-los, ou mesmo seus autores.
Por tanto, a minha arte não é barroca, não é clássica, não é romântica, nem é moderna. A minha arte tem apenas um nome, uma fonte, um único significado, pois é o único tipo de arte que cabe em mim, aquela que retiramos dos livros: A leitura.

Seu coração

Meu ioiô, meu tapete, meu amor
Se eu quebra-lo outra vez, a gente cola a gente emenda
Acredite: não há nenhuma porta.
Por tanto me deixe pintar com a cor que me vier,
Com meu pincel vou contornar cada espaço, cada evasão minha.
Reformar o que eu fecundei, e marca-lo a ferro novamente
Meu cobertor, meu espelho, meu amor
Para todo o sempre!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O caçador de pipas - Khaled Hosseini

O caçador de pipas é mais uma grande obra que virou filme e encantou a milhares de leitores, eu fui um deles. Considerado um dos maiores sucessos da literatura dos últimos anos, vendendo 2 milhões de exemplares só nos Estados Unidos. Posso inclusive abrir a boca e dizer que esse sim! Foi um dos melhores livros que eu já li. No começo achei que era mais uma história comum, até procurei semelhanças com ''O menino do pijama listrado''  de John Boyne (ótimo livro também), mais é realmente diferente, o contexto em si. O enredo é fantástico! Foram cara e bocas ao ler, hora sorrindo, hora quase chorando, nunca quis tanto entrar dentro de um livro para espancar um personagem, como quis a respeito de Amir, ainda o tenho como um grande covarde, com um ato bonito, e que só vem acontecer no final do livro. O oposto do querido Hassan, um Haraza (tipo um dalit, como mostrou na novela 'Caminho das Índias, sabe?), que independente de qualquer coisa nunca esqueceu quem era, e foi o amigo mais sincero e fiel como jamais vi. Apaixonante.

''Por você eu faria mil vezes!'' foi a frase que mais me veio a cabeça todas as vezes que Amir fez suas merdas e por vezes prejudicou o amigo. Se é que podemos chamar de amigo, não é leitor? Amir jan, não era amigo de ninguém, era apenas um menino, tornando-se um homem cheio de medos. Trata-se também de um período doloroso para o povo afegão. A invasão do talibã e a destruição total das cidades, as mortes principalmente do povo Hazara, um verdadeiro massacre. Então falando um pouquinho do livro: é a história da amizade de dois garotos que foram criados juntos, mamaram no mesmo peito, Amir filho de um homem importante famoso por atos bondosos e caridades, de índole impecável, e Hassan o filho do empregado da casa, Ali, um Hazara. Que no decorrer da história, acabam indo embora, motivos pelo qual Ali, Hassan e Amir sabiam. Anos se passam e Amir é torturado por suas lembranças e pela culpa, principalmente a do inverno onde ocorreu o campeonato de pipas, a busca pela pipa azul, onde o verdadeiro caçador de pipas era Hassan. Depois o Afeganistão entrar em conflito, muitos afegãos vão embora, abandonam suas casas, deixando tudo para trás. No caso de Amir e seu baba, vão para os Estados Unidos, e vivem por muitos anos, os últimos anos de vida de baba. Até o grande reencontro com um velho amigo afegão e descobre que o talibã e o destino, pegaram Hassan pela nuca e pelo coração. Mas havia deixado um pedaço de si, o pequeno Sohrab, uma copia do pai praticamente, e é quem ''mais uma vez'' salva Amir de sua incapacidade diante do reencontro com o nojento do Assef.
Enfim, uma lição. Não é um livro qualquer, de fato não é! Uma obra completa e eletrizante.
Existe também o filme (para os leitores preguiçosos, ou os que adorarem a obra) ainda não pude assistir, mais assim que der, vou alugar e comento aqui, muitas vezes estragam a obra no cinema, vamos ver se foi o caso.
Leiam, leiam e leiam! É maravilhoso viajar num outro mundo, outras culturas, sofrer junto com os personagens, eu senti até uma grande repulsa (peguei um ódio de Amir, incrível!), e uma paixão (Hassan) por atos e palavras de cada um.

Entre o céu a terra

Essa noite um sopro gelado veio me abraçar...
Eu sonhei com ela, como a muito tempo não acontecia
Aquela minha amiga, tão bonita, tão palhaça, deitada naquela cama
Com lençóis brancos, cheia de furos e fios lhe sufocando
Nunca me esqueço daquela imagem no hospital.
Como também nunca esqueci o cheiro das flores que lhe rodeavam
Dentro daquele... Entre as madeiras que sustentava seu corpo
Em quanto todos lamentavam sua partida, eu me conformava por dentro.
Pois sabia que precisava ir, sofrer aqui era muito mais árduo.
No sonho ela estava como sempre:
Cantarolando suas canções p'ro pé-de-meia e para mim
Dizíamos que seriamos professoras, escritoras, atrizes
Encenávamos peças, e desfilávamos com as roupas da minha mãe
Pelos corredores do apartamento com o pé firme...
Ela é quem não pisa mais no chão, não com os mesmos pés
Hoje esta por cima de todos nós, virou anjinho
Faz dois anos que se mudou para o céu,
Ela quem quis partir, e eternamente levou um pedacinho de mim!
Eu não acredito em Deus, mais se existe algo ou alguém que a abrigou, como eu a abrigaria:
Com paz, tranqüilidade e sem dor, eu o admiro até o fim dos meus dias.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Xis


Um flash e pronto! Imortaliza-se um momento, um fragmento das nossas vidas, a única cena que jamais a de morrer.



Existe um ato tão poderoso de parar o tempo e guardá-lo para sempre, como mágica. De observar de fora atentamente os mínimos detalhes, dos grandes eventos aos meros acontecimentos. O vetor das lembranças, dos sonhos, do passado em especial. Aquele tipo de passado que se guarda em porta-retrato para sempre ser observado por nós, e pelos demais. Sem envelhecer ou mesmo cansar, um belo dia será sempre um belo dia, um lindo rosto será eternamente um lindo rosto. Pode trazer uma mensagem, uma idéia, uma pergunta, uma reflexão. Pode mostrar o mundo, a vida, o surrealismo, ou mesmo nada.
Apenas um clique, e armazena-se a história da qual queremos lembrar, talvez sorrir, talvez chorar.
E assim, ter para sempre em vista a imagem daqueles que passaram pelo nosso filme, do mero figurante ao protagonista.
A arte de fotografar.

domingo, 15 de novembro de 2009

Adentro à alma

Eu sempre escrevo a respeito da vida; de quem sou eu; do que eu vou fazer; de planos.
Mais hoje foi diferente. Foi forte e especial para mim. Depois de um dia maravilhoso, pude sentir uma angustia tomar o meu peito de maneira grotesca.
Como a muito tempo não acontecia, eu consegui chorar. Às vezes, sozinha em casa até tentava, pensava em tudo de ruim, em pessoas ruins, tudo que fosse triste, mais eu não chorava jamais, poderia me acontecer de tudo, mais chorar... Não estava em mim!
Nem me lembrava da última vez que isso havia acontecido. Talvez a alguns anos atrás.
E foi com aquele profundo olhar me observando ao lado, como se me pedisse ajuda, foi quando eu cedi, quis me desmontar sobre o chão que se movimentava pela avenida, e ela pedia socorro. Contava sua história, sempre me olhando profundamente e atentamente, por breves momentos tocava em meu braço para ter certeza de que eu estava prestando atenção, eu como de costume (timidez do mundo) não olhava nos olhos nem dela, nem de ninguém, sempre desviando principalmente naquele momento, mais demonstrando que prestava atenção, apenas balançava a cabeça com um ''sim'', ''é'', ''aham''. Foi quando ela chorou. Fique impressionada com aquela facilidade, apenas em contar, lembrar-se do seu dia desde o momento que tinha acordado até aquele instante (já era noite), chorava com sinceridade, não com os olhos, era muito mais adentro, chorava à sua alma. Pude até escutar a mulher que gritava por ajuda, por piedade dentro dela, o seu rosto acabado pela depressão: rodeado de olheiras e rugas que moravam em sua face a alguns anos. Suas mãos que não estavam mais tremulas do que as minhas, meus olhos e ouvidos em choque escutava (agora a olhando nos olhos) seu depoimento, e não bastou muito para que eu sentisse que uma lágrima queria sair dos meus olhos. ''Eu sou doente'' ela disse, assim que cessou o choro. O que eu poderia dizer? ''Você vai ficar boa!'' Não. Era evidente que estava a cada instante que se passava morrendo, não pelo câncer, pela loucura, pelos cabelos que estavam caindo, pelo marido que lhe ofendia todos os dias, pela depressão que tudo isso lhe trouxe, mais pelo mundo ao seu redor, pela vontade que transparecia em seu olhar que não queria mais viver, ou queria! Mais não a deixavam, não deixavam que ela pudesse ser feliz, que pudesse se tratar, pois todos riam dela quando passava a chamavam de louca (sofria também de problemas mentais), mais eu não consegui enxergar loucura alguma! Nos quase 24 minutos que conversamos, loucos somos nós! Então eu quis naquela viajem trocar de alma com ela, queria sentir o que é ser realmente triste, queria abraçá-la e dizer que eu estava ali para o que ela precisasse, queria dá meu telefone para conversarmos, queria beijar seu rosto e passar as mãos nos poucos cabelos que ainda restavam ali, mais eu apenas peguei a sua mão e apertei bem forte, e disse: ''A senhora é uma mulher fantástica, brava e corajosa, eu quero ser como você um dia! Se quem sabe eu puder ser, eu serei então satisfeita forte e completa''.
Eu então senti mais uma vez as lágrimas gritarem nos meus olhos, e assim soube que iria chorar, como a muito tempo eu quis botar para fora tudo que havia guardado dentro de mim. Mais não, eu não chorei! Eu quis ser forte como ela, que apesar de chorar bastante era ela quem continuava viva naquela situação que para mim a única saída que pude ver, era a morte, eu sou fraca.
Por tanto tempo quis aquilo, e no exato momento que me foi concebido, eu voltei atrás. E descobri que não sou tão insensível assim, que eu amo viver, e o quanto é importante ter além de saúde, o amor daquelas pessoas que para nós são importantes e fundamentais. Ela não tinha nada disso. E ela continuava todos os dias a levar a comida para seu marido no Posto de Gasolina, arrumar a casa, e escutar deboches dentro e fora dela. Mais uma vez eu repito: ELA é forte! Tão forte que me faz inveja, queria poder ser assim.
Então eu não chorei mais, não quero chorar, não quero desistir.
''tchau querida, foi um prazer te conhecer!'' Um sorriso tão meigo, doce e puro, era quase uma criança sorrindo, ela me deu adeus e desceu no Posto da vila Tamandaré.
''Tchau'' Eu tentei corresponder à altura. Segui a viajem.

Nós crescemos, nós mudamos, nós escrevemos ...



Meu nome é Eduarda, o dele é Felipe. Eu sou ela, e ele é ele.
Eu gosto delas, e ele gosta deles.
Eu moro na capital, ele no interior. Eu escrevo o mundo, ele se descreve. Eu o amo, e ele me ama!
As diferenças são de fato extremamente levadas em conta, mais a julgá-las de perto são apenas diferenças, meras insignificâncias que resumem a união de dois mundos, dois corpos, dois amigos, em um único contexto.
E são por tantos momentos, e palavras, que não o esquecerei nunca.
''Nós crescemos; nós mudamos; nós escrevemos'' - fiquei alguns minutos pensando quando me enviou isso -
Seria esse o nosso lema? Seria. Nós crescemos, e aprendemos com isso o amargo do mundo (e do doce também!) da sociedade em si, da importância da amizade. Nós mudamos, em prol desta mesma sociedade que reprimida: pune e impõe opiniões ofensivas. Nós escrevemos! Porque é a única coisa que nós resta a fazer de bom de puro e de inocente, pelos dias que se seguirão recheados de tantos devaneios e de tanta repressão.
Virão dias melhores, e com eles também virão dias piores, e estaremos escrevendo/nós escrevendo, um ao outro, e ao mundo que corre ao nosso redor, quem sabe, o mesmo mundo de que nós corremos atrás para que aconteça, seja descrito pelas nossas mãos e lida por todos os olhos que nos tripudiam todos os dias.

- Dedicado a Felipe Eduardo, o estranho menino sonhador do interior de Pernambuco.

sábado, 14 de novembro de 2009

Closer

De que adianta tentar com tanta veemência e precisão, se depois sempre vem o fracasso e eu tropeço.
Cansei de esforços vãos, que nunca me servem de nada, nada.
E tantos foram eles, que agora vou trancar-me numa gaveta e nunca mais sair.
Ficar até o sol incandescer a janela do meu quarto (não há janelas), até a lua deixar de existir e tornar-se como eu me sinto agora (inútil).
Deixei de sonhar, ao menos nesse instante, que penso na vida, no meu dia, no que aconteceu esta semana.
E me sinto tão só, mais tão rodeada, e isso não é bom, é tão incapaz.
Tiro e boto o anel no dedo, solto e prendo os cabelos, ando e me jogo na cama, abro e fecho a geladeira, e choro ao mesmo tempo, entre soluços procuro respirar e me acalmar.
Mas o meu lugar ainda é ali: entre os velhos objetos que não gosto mais, que perderam o uso.
Eu não tenho nada que realmente me pertence, eu não sinto nada que os outros sentem, eu não sou como as outras garotas da minha rua, da minha escola, da minha vida...
Pela enésima vez, fechei-me.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Os Confundidos - Osman Lins

Esse conto se encontra na obra Nove, novena de Osman Lins.
Os Confundidos- Já tinha ouvido falar bastante nesse livro, nas aulas de Literatura do curso/colégio. E de tanto o meu professor Diógenes Américo (Curso-Interativo) pedir para nós, alunos do pré-vestibular, lermos, fui atrás. Ele citava mais do que qualquer conto: Os Confundidos. E disse até: ''Sempre fico tenso depois de ler'' Tamanha empolgação, que acabei indo realmente procurar para ler também.
Achei muito interessante o modo como ele foi escrito, a tal ''discussão do casal''. O ponto crucial da obra é a confusão que é feita na cabeça do leitor, a maneira que o autor nós leva ao trocadilho das falas. Em quase todos os momentos da história é difícil saber quem fala o que. Em apenas alguns trechos é que podemos denominá-las, pelo gênero das palavras (masculino ou feminino).

Buscando respostas para os problemas encontrados por ambas as partes no relacionamento, tais como: A perda da identidade, o ciúme, da monotonia do cotidiano. Entre tantas outras coisas.
Bastante envolvente (eu achei), e bem cotidiana também, vamos lá leitor, nunca passou por uma dessas? Acredito que quando o relacionamento se sustenta a base de ''viver o outro'' é o inicio de fim. Como já citado por algum deles dois (personagens) no próprio conto:
''-Mas como, se perdi a identidade e não sei mais quem sou? Somos como dois corpos enterrados juntos, roídos pela terra, os ossos misturados. Não sei mais quem sou.''
De fato, sufocante, encontrar-se numa sinuca de bicos como essa rs.
''- é porque nos amamos. Estamos confundidos, cada um é si próprio e também é o outro.''
Será então amor? A ponto de confundirem-se. Não saber quem é, e por não saber mais do que gosta, do que faz, que se destina apenas  a ilusão de ser o outro.
Existe um breve parágrafo que separa o amor da paixão:
A paixão é como o sonrisal, tsiiiiiiis! efervesceu e acabou. Como um breve momento passageiro, que pouco se sente e que é substituível.
O amor é diferente, digamos que é muito mais do que isso, é saber quem é o outro, respeitar essas diferenças, e saber uni-las todas de maneira satisfatória e harmônica, e que então, dificilmente encontra-se remédio para a cura.

''- isso não é amor. Não se perde a identidade no amor. Mas no escritório, na vida coletiva; ou na demasiado solitária por falta de pontos de referência. No amor, pelo contrário, devemos reencontrar nossa identidade perdida.''

Confesso que não estava a fim de ler o livro Nove, novena ainda tenho que terminar os outros dois que estou lendo, mais está na lista! Lerei em breve, pois esse conto me deixou com água na boca para ler os demais da obra. Também o livro Os Melhores Contos (o que o professor Diógenes tanto falou), onde alguns contos foram extraídos da obra Nove, Novena e Os Gestos, sendo este último citado, seu segundo livro, publicado em 1957, no qual ele já fugia de temas que podiam acorrentá-lo ao rótulo regionalista (em Osman, a ação costuma ocorrer de dentro para fora, bem singular). Esses contos abordam temas como a perda, o conflito de gerações, a falta de afeto, a passagem do tempo, a transição da infância para a adolescência e a busca da liberdade.
São eles: "Os Gestos", "Reencontro", "A Partida", "Cadeira de Balanço", "O Vitral" e "Elegíada".
Indico para os senhores, leiam também!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quem sou eu?

Eu não me descrevo apenas através de uma frase de Clarice, nem me limito a ser um poema de Bandeira, ou mesmo um verso enigmático de Drummond, tampouco me sinto uma carta de Florbela.
Eu sou muito menos do que tudo isso, sou alguns rabiscos.
E sou como a bituca do meu cigarro: hora em cima, hora em baixo, no chão, no ar.
Desintegrando-me junto ao vento em mil partes, entrando pelos poros de cada um que ouse pisar ou passar por mim.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Meu.REM.

Eu tive um sonho esta madrugada, o sonho mais sonhado por mim nos últimos meses, de verdadeiro tormento psicológico que me achei sem chão. Um sonho daqueles que não se pode acordar sabe? Que é impossível não parecer real! Que dá vontade de simplesmente não despertar nunca mais. Que conforma, conforta, que inspira que seduz e me prende.
Talvez a vontade seja tanta que... Acontece até de perder o ar, para não perder sequer um segundo do hálito que sai da tua boca, com medo de despertar e não conseguir lembrar-me daquele momento tão singular: nós, escondidas, escuro, sorrisos, tão único!
Lembro-me vagamente dos sussurros ao ouvido, da mão que se desenhou em seus quadris, pressionando-a com todo o desejo contra a parede. Desenhando minha boca em seu colo, junto a todo o resto.
E num breve silêncio que se fez um abraço. O mais meigo e doce abraço que não tive, porém o melhor e o mais verdadeiro, apaixonado.
Estava escuro ali, e ainda assim, pude sentir seus olhos verdes me fitarem com tamanha transparência, com medo. Eu jamais contaria para alguém o nosso segredinho!


* O estado REM é um estado neurologica e fisiologicamente activo. Quando uma pessoa está num sono profundo não há sonho e as ondas (chamadas ondas delta) ocorrem 3 por segundo. No sono REM, as ondas ocorrem cerca de 60 a 70 por segundo e to cérebro gera cerca de cinco vezes mais electricidade do que no estado acordado. A pressão arterial, as batidas do coração, a respiração, etc podem mudar dramaticamente durante o sono REM.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Entreparedes

Meu quarto é tão quadrado e pequeno, cujas paredes já são tão próximas quão velhos amigos, substituem velhos diários, mais não suprem as novas vontades que se fazem aqui, dentro de mim.
Observo as quatro paredes que me cercam da cor lilás, e o teto branco-gelo, minha estante repleta de livros que ainda não foram folheados por minhas mãos secas, o lençol que cobre meu corpo todas as noites, o quarda-roupa onde escondia algumas caixas, que escondem a minha vida: Cartão de natal, cartas de amigos, vários rabiscos da última folha de inúmeros cadernos, diários, meu primeiro exercício de química, a primeira peça teatral que escrevi/dirigi (O Casamento da Matuta) quando tinha 14 anos, fotos da época que fazia teatro. Que saudade!
Mais o meu nome ainda continua pintado na porta do meu quarto, junto ao da minha irmã, as marcas na madeira da cama ainda cicatrizam meu nome junto ao dele, que também persistem aos anos que sustento a sua ausencia dentro de mim, escrito no código que nós dois inventamos quando tínhamos 11 anos, nosso maior segredo foi ter um segredo que só fosse nosso. E onde ele está? Como ele está? Por onde anda?
Escrevíamos no espelho, um para o outro...
‘’êcov ed!, azerup ed sopmet sessed edaduas euq…’’

Nem que eu jogasse tinta sobre as paredes, ou mudasse os móveis de lugar, quem sabe pulasse pela janela, nada voltaria, nem mesmo os sonhos.
Fechei a caixa que o deixava vivo aqui, agora não faço idéia por onde anda, por onde voa, jogue-a pelo ar, através do muro do meu quintal. Morreu fisicamente, mais a nostalgia continuará aqui comigo sempre, sempre.

Dedico ao infeliz que figiu com meu coração.

domingo, 8 de novembro de 2009

Destruindo a infância que virá!

Pois é meus caros, crescemos ouvindo todos aqueles Contos meigos e fofos, fantasiados pela Disney, sendo que a versão original não é nem um pouco agradável (no sentido de final feliz), ou um conto infantil. Antigamente as historinhas tinham geralmente um final bem macabro, diferente de hoje. O público parece não saber lidar com a verdade (que nem sempre é bela) sente uma necessidade em adaptar tudo, e então trata sempre de mesclar todos os contos para que tenham finais felizes ou coisas do tipo.
Estava lendo as versões originais de várias histórias que minhas tantas babás leram para mim (e com certeza aos senhores também) quando era pequena! Mas, que existia de fato uma moral na história! Com um final não tão divertido para as pobres donzelas e príncipes encantados. Adorei conhecer essas versões, por isso passei os resumos para o blog.


Chapeuzinho Vermelho - A versão desse conto que conhecemos é aquela em que Chapeuzinho Vermelho, no final, é salva pelo caçador, que mata o lobo mau.
Porém, a versão original do francês Charles Perrault não é tão bonita. Nessa versão, chapeuzinho é uma garotinha bem educada que recebe falsas instruções quando pergunta ao lobo sobre o caminho até a casa da vovó. No fim, ela é simplesmente devorada pelo lobo. Só isso, e a história acaba. Não há caçador e nem vovozinha, apenas um lobo gordo e a Chapeuzinho Vermelho morta.
A moral da história é que não se deve falar com estranhos! rs

A Pequena Sereia - A versão de 1989 de A Pequena Sereia poderia ser intitulada “A Grande Sortuda”. Nessa versão da Disney, a princesa Ariel termina sendo transformada em um ser humano para que possa casar com Eric. Há uma festa maravilhosa com a presença de seres humanos e seres do mar.
No entanto, no original de Hans Christian Andersen, Ariel vê o príncipe casar-se com outra e entra em desespero. Oferecem-lhe uma faca com a qual ela poderia matá-lo, mas, em vez disso, ela salta para o mar e morre ao voltar para a costa. Hans Christian Andersen modificou um pouco o final para amenizar a história. Na nova versão, ao invés de morrer na espuma da praia, ela se torna “filha do ar”, esperando ir para o céu. De qualquer forma, ela morre!

A Branca de Neve - Na história da Branca de Neve que nós conhecemos, a rainha manda o caçador matá-la e trazer seu coração como prova. O caçador não consegue fazer isso e lhe traz o coração de um tipo de porco.
A boa notícia é que a Disney não distorceu tanto essa história, mas omitiu detalhes importantes: no conto original, a rainha pede o fígado e os pulmões de Branca de Neve, que serão servidos no jantar daquela noite! Também no original, a princesa acorda com o balanço do cavalo do príncipe, enquanto era levada para o castelo. Não há nada de beijo mágico. O que o príncipe queria fazer com o corpo desfalecido de uma garota é algo que vou deixar para sua imaginação!!! Ainda na versão dos irmãos Grimm, a rainha má é forçada, no final, a dançar até a morte usando sapatos de pedra, quentes como brasas. Se fodeu!

A Bela Adormecida - Na versão conhecida de A Bela Adormecida, a adorável princesa adormece quando fura seu dedo em uma agulha. Ela dorme por cem anos até que o príncipe finalmente chega, beija-a, e acorda-a. Eles se apaixonam, casam, e (surpresa!) vivem felizes para sempre.
Contudo, o conto original não é tão doce. Nele, a jovem garota adormece por causa de uma profecia, não de uma maldição; e não é o beijo do príncipe que a desperta: o rei a vê dormindo e, querendo se divertir, a estupra. Depois de nove meses, nascem duas crianças (e ela continua dormindo). Uma das crianças chupa o dedo da mãe, retirando a peça de linho que fazia ela dormir. A princesa acorda para saber que foi estuprada e é mãe de gêmeos. Fim. Puta que pario viu rs!

João e Maria - Na versão largamente conhecida de João e Maria, ouvimos sobre duas crianças que se perdem na floresta e encontram uma casa feita de doces e guloseimas que pertence a uma bruxa. Elas então são aprisionadas enquanto a bruxa se prepara para comê-las. Eles conseguem escapar e atiram-na no fogo, salvando-se.
Numa versão francesa mais antiga (chamada ''As Crianças Perdidas''), ao invés de uma bruxa, há um demônio, que também é enganado pelas crianças. Contudo, ele não cai na cilada e está prestes a colocá-los na guilhotina. As crianças fingem não saberem como entrar no instrumento e pedem para a esposa do demônio mostrar como se faz. Nesse momento, elas cortam seu pescoço e fogem! Crianças sangue-frio não é mesmo?! rs

Cinderela - Na Cinderela moderna, nós temos a linda princesa casando-se com o príncipe depois que este viu que o sapatinho de cristal servia em seus pés.
Esse conto tem suas origens por volta do século I a.C, no qual a heroína de Strabo se chamava Rhodopis, não Cinderela. A história era muito parecida com a atual, com exceção dos sapatinhos de cristal e da abóbora. Porém, oculta por trás dessa linda história há a versão mais sinistra dos irmãos Grimm: nela, as irmãs de Cinderela cortam partes dos próprios pés para que eles caibam no sapato de cristal, querendo enganar o príncipe. Ele, então, é avisado por dois pombos, que bicam os olhos das irmãs. Elas passam o resto de suas vidas como mendigas cegas enquanto Cinderela vive no castelo do príncipe. Ao menos essa se dá bem!

Os Três Porquinhos - O conto dos Três Porquinhos foi muito amenizado para as crianças de hoje, ao contar uma história cheia de violência sem mostrar violência. Terminamos com um conto muito simplório que mostra “como é bom ser esperto”.
A história original perdeu muito. O conto original não é mais longo, já que o lobo mau não perde tanto tempo assoprando casas. Ele faz isso para pegar os dois primeiros porquinhos. Aqueles coitados são logo pegos e devorados. O terceiro porquinho — o mais esperto de todos — é o entrave. Sem conseguir assoprar a casa de tijolos, o lobo tenta blefar. Ele faz de tudo para trazer o porco para fora de casa, promete nabos, maçãs, e uma visita à feira. O porco recusa a tentação, sabendo que há coisas mais importantes.
O lobo decide então voltar à violência. Ele escala a casa e entra pela chaminé. Porém, o porquinho tinha planejado isso, e colocou um caldeirão de água fervendo na lareira. O lobo cai ali dentro e morre. Ele — e os dois outros porquinhos em seu estômago — são agora o sinistro jantar do terceiro porco. HAHAHA.


Fontes (tradução livre e modificada) - http://www.lendo.org/
Listverse: Top 10 Gruesome Fairy Tale Origins
Digital Bits Skeptic: Original versions of classic fairy tales

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ilha das Flores, Curta metragem



O tema da nossa aula de literatura na semana retrassada, do curso Interativo, foi  ''Cinema e Comunicação'' mais acabamos entrando em muitos outros assuntos, entre eles, este documentário e o poema ''O Bicho'' de Manuel Bandeira, fazendo ponte com a aula de Sociologia.
''Ilha das Flores'' é um curta-metragem de Jorge Furtado, onde trata da relação entre o dinheiro e a miséria. Mostrando de maneira bem humorada e realista questões da sociedade, assim, rápido e objetivo. Vale ressaltar que a função de um documentário é mostrar suas idéias argumentadas, e que nem tudo (neste caso) é de fato verdade, como por exemplo o local das filmagens.

O vídeo que tem apenas 10 minutos e 28 segundos, trás o significado e o ciclo do mundo capitalista consumidor que temos. De maneira reflexiva, pode-se observar a mensagem que se passar no curta.
Somos todos seres humanos, por duas características: Telencéfalos altamente desenvolvidos e o polegar opositor.
Esta seria a tese do documentário. Eu particularmente adorei.

Em relação a parte de poesias ''O bicho'' de fato seria o poema que se encaixaria melhor com a ideia da aula. Inúmeras vezes já trabalhado, tanto nos colégios que já estudei/estudo, quanto no cursinho. Sendo estes: Jorge Furtado e Manuel Bandeira os autores dos reflexos de um consumo exagerado, e do capitalismo selvagem.

(Aula de Literatura/Cinema e comunicação- Professor João Cintra)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O cheiro que a chuva trás

Eu já senti essa chuva cair no meu quintal uma vez, molhando toda minha roupa e meus brinquedos espalhados pelo chão. Lembro até daquela boneca que era tão linda, com quem eu compartilhava alguns segredos e tomava o chá da tarde, e que hoje, falta-lhe o olho direito e sua roupa está suja e rasgada.
Eu me lembro do tempo que não havia horário, qu'eu era tão livre quão aqueles pingos de chuva no meu quintal, que não existia caminho algum para eles, iam por onde o ralo os levassem, hora ao esgoto, hora ao balde.
Agora essa chuva inunda não só o meu quintal, mas toda minha casa, todos os pensamentos, e todos ao meu redor. Não me deixa secar a roupa, ou ao menos sair ilesa.
Agora pareço estar numa piscina, imersa por obrigações, e sentimentos tão consumidores, tanta pressão a ponto de Bum! Explodir. Eu queria brincar com aquela boneca outra vez, voltar ao tempo de criança, onde a única lei era diversão, sem amores, sem lembranças, sem prestar contas, jogando bola com meus irmãos pela casa da minha avó paterna nos dias de domingo.
A maioridade vem aí, e com ela uma tempestade onde eu espero não me afogar. Saber usufruir ao máximo o esforço daqueles que acreditam na dona daquela boneca escorraçada, que hoje só espera a chuva cair para sair correndo pelo quintal, deixar os cabelos molhados, a roupa ensopada, e ao abrir os braços simplesmente descobrir que não vai se afogar. Sentindo outra vez o cheiro da chuva, tão agradável quão crescer igual ao seu volume na terra, boiar nas águas que caem junto com os dias que passam, refletindo em rugas e maturidade.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A Porta e a Banana



Existia uma porta tão fixa a parede quão os conceitos de como ser uma boa porta: abrir e fechar sem fazer barulho para não incomodar os moradores daquele lugar e torna-se quase invisível, às vezes chutada, arrombada, espancada, faz parte dos tramites em ser uma boa porta. Além de ser bonita e fazer sala aos convidados, a porta não tinha voz, a porta era só uma porta. E quem se importa com a porta? A banana.
Mas um dia a porta cansou de ser uma porta! Queria ser um abacaxi, dai quem sabe seu fim seria rápido ou mesmo um passarinho, para ter o direito de sair por ai a mingué, sem rumo. Então a porta foi escorraçada do seu lar, por querer ser livre, ser diferente e ser quem ela era de verdade, sem os conceitos de uma porta tradicional.
Encontrou alguns amigos pelas ruas dos guetos tão povoados dentro dos armários, e foi lá que conheceu a banana.
A banana do armário era tão singela e engraçada que fez a vida da porta mais feliz. Tornaram-se amigas e passaram a se ajudar em tudo que podiam. Mas a porta não podia ficar ali seria difícil para ela. E a banana não podia sair pelas ruas e pelo mundo como queria a porta, ela apenas podia ficar ali no armário, caso contrário seria devorada pelo povo faminto daquela terra, uma banana tão gostosa quanta aquela tinha que preservar-se ao máximo. Então foi ali que elas se separaram. Cada uma seguiu seu caminho prometendo manter sempre contato, mesmo que pelo computador.
A porta conheceu outras portas que não eram tão engraçadas assim, e notou que gostava de chaves diferentes, sua fechadura era igual às demais, porém não conseguia encaixar chave alguma. A porta pensava o porquê daquilo tudo, e não queria aceitar ser diferente neste ponto, mais afinal, era isso que ela sempre foi, e é por isso que ela fugiu não é mesmo? É.
A banana ficou amarga, perdeu sua cor com raiva da porta por tê-la deixado ali no armário sozinha, dizia sempre que à porta era insensível por não entender seus motivos em ficar presa. Pensou até em abandonar tudo e fugir, logo refletiu que seria melhor continuar a ser o que foi destinada, diferente da porta. Uma banana, branquinha com cascas amarelas. Mas a saudade era tão grande que a banana fez as malas e partiu atrás da sua porta.
Logo a porta também percebeu o engano, e que apesar de poder estar livre no mundo onde poderia ir a qualquer lugar, a qualquer chaveiro para achar uma chave que ali se encaixaria perfeitamente, estava presa à banana. Fez as malas e partiu rumo ao armário da sua amada.
A porta chegou tão linda quão nunca havia estado: pintada e lixada, para um reencontro. E rapidamente foi comunicada da partida que a banana fez à sua busca, ficou triste, ficou feliz. Feliz por saber que seu sentimento era correspondido a tal ponto da banana deixar o seu mundo para ir atrás de um outro desconhecido. Triste porque ela poderia facilmente se perder, pois não conhecia nada além das prateleiras, dos armários, dos bananais.
A banana madura e amarela partiu com a casca para cima e feliz. Parando a cada esquina procurando notícias do paradeiro da porta, mas não conseguia nenhuma resposta concreta. Até que um macaco propôs ajudá-la e disse que sabia onde era o gueto das portas-abandonadas, e ela o seguiu.
A porta desesperadamente foi de rua em rua perguntando pela banana, e seguiu os rastros dados pelas esquinas onda a banana havia passado. Chegou numa árvore onde fora indicada a ir procurar o tal macaco e lá não existia ninguém, apenas uma casca de banana destroçada. A porta quis morrer! ali estava a sua banana, que fora comida pelo maldito macaco. Não! -ela gritava- e jurava que aquilo era tudo sua culpa, que nunca deveria ter saído do armário já que lá tinha encontrado a felicidade que tanto procurara a vida toda. Então sem que ninguém visse, a porta correu rumo ao mar de cupis, e atirou-se jurando amor eterno a banana, e que lá no céu estariam as duas juntas e felizes. Foi-se a porta.
A banana que não tinha sido devorada pelo macaco, conseguiu fugir da emboscada preparada para ela.
Não sabia mais onde procurar, apenas sabia que a porta tinha voltado ao armário, e que também partira numa jornada atrás do seu sonho: a banana. E nunca parou de procurar. Nunca desistiu. Pois sentia que a porta também estava a sua procura, e que mais cedo ou mais iriam encontrar-se.
Procurou até ficar podre, e pedir desculpas por não ter tido mais tempo para achá-la, por não ter nascido uma porta, e ter sido tudo tão, mas fácil. Foi-se a banana.


Caro leitor,
Esse conto foi escrito em apenas alguns minutos, perdoe a falta de prática, não costumo escrevê-los.
E nem sei como é que se trabalha nessa tipologia, enfim. Lembrando de coisa passada por mim (porta) e por minha querida banana. Boa sorte na tentativa de compreensão.
Desenho por: Dayse Barros.

Escolha

Então escolha se vem no meu humilde barquinho de papel navegar entre caminhos estreitos e sem saída, ou se foge a pé pelos becos incertos com a nossa saudade no bolso, onde certamente eu não estarei. Você quem sabe o rumo tortuoso e complicado das nossas trajetórias daqui por diante, cujas lembranças serão acionadas por meio delas (ou não), se nós encontrarmos no vacu uma solução ou outra rua por acaso, será mera coincidência.
Suba então nas minhas costas, que eu carrego os nossos sonhos sem deixar cair nenhuma cena, nenhum roteiro, nenhuma palavra.
Faço até um best-seller ao demais telespectadores.
E Ainda vou sambando até o nosso lar! No mais alto ponto que nós escolhermos para viver. Ou quem sabe eu vá sozinha, bem alegre, fazer samba e mais um poema ao léu.

sábado, 31 de outubro de 2009

Metamúsica


A música é mera extensão da poesia que traduz em seus batuques o barulho do coração de um poeta, o ritmo que é dado ao encontro do lápis com o papel riscado, trás o lirismo em notas à alma, das quais se encontram sempre desafinadas, treinando a harmonia do conjunto.
O embalo é fonte do leitor, que dança com o corpo e eleva a mente ao mais alto ponto artístico/intelectual.
A letra é poesia, quando se é música de verdade. Quando en-canta não apenas a si mesmo. Quando a troça segue sem rumo por caminhos desconhecidos, deixando-se livre para quaisquer seguidores, com o mais alto estandarte da cultura.
A batida mostra-se no impacto de interpretações aos demais conjuntos de notas/letras/melodias que se transformam em apenas um plural de versos transpostos oralmente por vanguardistas da vasta e sedutora poesia.

Decrépito

São os dias que se passam seguidos pela nova instância de viver
O segundo secular fracionado em mil milênios passados
A sede que começa depois de um gole de vigor
Uma cama repleta de flores com cheiro de morte
A melodia composta pelo iletrado do último rol

Decrépito é o estado de luz.
Onde os grandes escrevem, os médios clareiam, e os pequenos se apagam.
Forte é o estado de fracasso.
Cujas lembranças não se instalam de maneira singular, e corroboram sua mente pela ilusão de virilidade

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Papel e caneta

Lendo velhos diários, enxerguei o receio que se escondia entre a nostalgia e o futuro. Desenhar letras num pedaço de folha em branco foi à única coisa que aprendi a fazer. Então pude com ele me comunicar. Papel e caneta são os únicos vetores dos versos que consegui redigir até hoje, idealizando o que nem mesma vivi; o que nem mesmo sei o que é; e o que temo em ser.
Desenhando letras ainda... Agora por outros motivos.

Através dum copo de cerveja

Eu vejo a vida embaçada entre ruas e calçadas que meus pés brigam ao entrelaçarem-se subindo e descendo, pulando e dançando, entre sorrisos e abraços.
Eu sinto a noite soar aos ouvidos quão a bela melodia de um piano desafinado, afinando-se por belas mãos grossas a tocá-lo incessamente, bravamente, rudemente.
Eu bebo mais um copo de cerveja sentada num banco com meros conhecidos, olhando o clarear do céu, assistindo a noite virar dia, cansada, inerte.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Uma prova de amor

Estava passando de canal em canal sem ter nada de útil na televisão (como sempre), quando vi o trailer deste filme, as cenas inicialmente me chocaram e pude ver apenas em alguns segundos o quão foda seria a estréia dele, e assim que entrou em cartaz, amigos indicaram-me e fui também assisti-lo.

Um dos melhores filmes que já vi nos últimos anos! Com a direção de Nick Cassavetes e no elenco: Cameron Diaz, Abigail Breslin, Jason Patric, Evan Ellingson.
É evidente o grande desempenho dos atores, e a brilhante atuação de toda a ''família'' sendo cada um o narrador da história um pouco. Mostrando efetivamente o sentimento de cada um, e o sofrimento diante de situações difíceis a serem contornadas.
Uma Prova de Amor não é apenas um filme que retrata o drama de uma pré-adolescente que sofre de leucemia, trata-se também dos laços familiares e até onde podemos ir para ajudar alguém que nós amamos incondicionalmente, ao ponto de não ter noção da realidade e ter esperanças até o último segundo. Toda a dificuldade e a rotina de um casal que muda ao descobrir que sua filha tem um tipo de câncer maligno, e necessita de um tratamento mais intenso. Onde escolhem por ter outro filho para ajudá-la, trazendo à tona uma grande polêmica. O filme começa então, com Anna (Abigail Breslin), entrando na justiça contra os pais pedindo sua emancipação médica, por ser levada desde muito nova a fazer doações para sua irmã e no momento estar sendo obrigada a fazer um transplante de rim à Kate. Devido a este fato, o clima fica sempre tenso entre os personagens principalmente entre mãe e filha no decorrer de grande parte de história.
O melodrama dá ênfase em cenas extremamente emocionantes e em diálogos tristes, depoimentos na qual levaram inúmeras salas de todos os cinemas aos prantos. Como eu, e aos demais que já assistiram ao filme. Não vou fazer uma sinopse aqui, se não perde a graça, já falei o, mas importante! Agora resta ao leitor alugar, se emocionar, e guardar para sempre uma reflexão de companheirismo, cooperação, esperança, e amor.
Com certeza pegará colocando-se no lugar da Kate ou de qualquer um da família dela, e sentirá na pele o desespero, ou mesmo a tranqüilidade de saber que a morte é apenas mais uma página que será superada por todos ali, mesmo com muito dor na sua partida.


domingo, 25 de outubro de 2009

Contracapa

Eu escondo meu coração como quem tem medo de um dia sofrer,
Embaixo do travesseiro, ou por trás de uma canção
Minuciosamente cuidadosa com os encantos ainda deliberados
Mesmo não havendo motivos para tal desculpa encontro saídas
Para refugiar-me das palavras doces ouvidas,
Já fugi, já voltei, já enrolei, já chorei.
Então para quê o medo, se tu expões de maneira tão perigosa o teu?
Na contramão do bom senso, perdida e em transe eterno.

Conquistar-me dia após dia é mais que uma tarefa árdua e chata,
É a prova ''daquilo'' que você me diz...
É a prova da insensatez, do sonho com final feliz
O teu amor é muito mais do que a minha vaidade necessita,
Mescla-me com paixão e orgulho, a ponto de ser tão importante para alguém
A ponto de ser insubstituível
És x' e x'' da minha parábola, o produto das minhas contas sem sucesso
O texto simples e o erudito, o bem e o mal escrito, tanto faz
És a contra-capa do meu livro!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Recanto particular

Um dia me disseram que eu não poderia jogar futebol
Um dia me disseram que eu não poderia sentar de perna aberta
Um dia me disseram que eu não poderia beijar a ''coleguinha''
E me disseram também, que eu deveria ser como a minha irmã

Só esqueceram de me dizer que os maiores pecados são conseqüências do amor
Só esqueceram de me ensinar a atuar diariamente para todos que me disseram o que eu deveria ser
Só esqueceram de me mostrar o quão eu deveria ser preconceituosa comigo mesma
E esqueceram também, de aprender a me distinguir de minha irmã

Eu pude responder que adoro futebol
Eu pude mostrar que sentar de perna aberta não me tornava menos mulher!
Eu pude assim, explicar que a ''coleguinha'' era mas que isso para mim...
Então pude confessar, que até aceitaria mudar, caso não tivesse aprendido desde cedo os conceitos ensinados por minha mãe, e meu pai. Cujas regras se encaixavam até eles mudarem de opinião. Ele.
Sinto-me deslocada em certos guetos, por muitas vezes prefiro o recanto,

Pois é lá que abraço o mundo e sinto-me em casa
É lá que sento de perna aberta com a ''coleguinha''
É lá que não sou comparada à minha irmã
É lá que vivo sem repressão e feliz.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O verde dos teus olhos

Já falei tanto no verde dos teus olhos
Que me remetem a trabalhar a imaginação:
Abraça-me e me pedi pr'eu não te soltar
Quem dera isso fosse acontecer quem dera isso pudesse me caber
Aqui dentro do meu peito, e dentro de você...

Agarra-me e me beija pr'eu não acordar,
Um sonho qu'eu desenho antes de dormir, passo à noite acordado
Em meio desespero para te descobrir.
O mistério que há em ti inteiramente destinado, apenas a mim!
Cause-me um desejo pr'eu não resistir,
Talvez eu vá aí e te agarre pelo pulso e vá te desvendar,
Tiro a tua blusa alisando o teu colo, beijo teu pescoço,
E vou descendo até onde eu puder, descobrindo cada buraco que há em ti.
Vá arranhando minhas costas,
Pegue entre as minhas pernas, e faça-se em mim.

Olho nos teus olhos verde-quase-mel
O teu sorriso é lindo quando se faz para mim, tão meigo!
O quê remete a vida sem os olhos teus,
Pra me fitarem nua como os meus?
No que serve apenas imaginar,
Se talvez eu nunca possa ir em frente?
Deixas-me só na mão, num trabalho árduo, num torduoso desejo vão,
Que me mata dia após dia num prazer sonhado
O verde dos teus olhos, tão lindo quão tudo que já vi de mais belo.