domingo, 15 de novembro de 2009

Adentro à alma

Eu sempre escrevo a respeito da vida; de quem sou eu; do que eu vou fazer; de planos.
Mais hoje foi diferente. Foi forte e especial para mim. Depois de um dia maravilhoso, pude sentir uma angustia tomar o meu peito de maneira grotesca.
Como a muito tempo não acontecia, eu consegui chorar. Às vezes, sozinha em casa até tentava, pensava em tudo de ruim, em pessoas ruins, tudo que fosse triste, mais eu não chorava jamais, poderia me acontecer de tudo, mais chorar... Não estava em mim!
Nem me lembrava da última vez que isso havia acontecido. Talvez a alguns anos atrás.
E foi com aquele profundo olhar me observando ao lado, como se me pedisse ajuda, foi quando eu cedi, quis me desmontar sobre o chão que se movimentava pela avenida, e ela pedia socorro. Contava sua história, sempre me olhando profundamente e atentamente, por breves momentos tocava em meu braço para ter certeza de que eu estava prestando atenção, eu como de costume (timidez do mundo) não olhava nos olhos nem dela, nem de ninguém, sempre desviando principalmente naquele momento, mais demonstrando que prestava atenção, apenas balançava a cabeça com um ''sim'', ''é'', ''aham''. Foi quando ela chorou. Fique impressionada com aquela facilidade, apenas em contar, lembrar-se do seu dia desde o momento que tinha acordado até aquele instante (já era noite), chorava com sinceridade, não com os olhos, era muito mais adentro, chorava à sua alma. Pude até escutar a mulher que gritava por ajuda, por piedade dentro dela, o seu rosto acabado pela depressão: rodeado de olheiras e rugas que moravam em sua face a alguns anos. Suas mãos que não estavam mais tremulas do que as minhas, meus olhos e ouvidos em choque escutava (agora a olhando nos olhos) seu depoimento, e não bastou muito para que eu sentisse que uma lágrima queria sair dos meus olhos. ''Eu sou doente'' ela disse, assim que cessou o choro. O que eu poderia dizer? ''Você vai ficar boa!'' Não. Era evidente que estava a cada instante que se passava morrendo, não pelo câncer, pela loucura, pelos cabelos que estavam caindo, pelo marido que lhe ofendia todos os dias, pela depressão que tudo isso lhe trouxe, mais pelo mundo ao seu redor, pela vontade que transparecia em seu olhar que não queria mais viver, ou queria! Mais não a deixavam, não deixavam que ela pudesse ser feliz, que pudesse se tratar, pois todos riam dela quando passava a chamavam de louca (sofria também de problemas mentais), mais eu não consegui enxergar loucura alguma! Nos quase 24 minutos que conversamos, loucos somos nós! Então eu quis naquela viajem trocar de alma com ela, queria sentir o que é ser realmente triste, queria abraçá-la e dizer que eu estava ali para o que ela precisasse, queria dá meu telefone para conversarmos, queria beijar seu rosto e passar as mãos nos poucos cabelos que ainda restavam ali, mais eu apenas peguei a sua mão e apertei bem forte, e disse: ''A senhora é uma mulher fantástica, brava e corajosa, eu quero ser como você um dia! Se quem sabe eu puder ser, eu serei então satisfeita forte e completa''.
Eu então senti mais uma vez as lágrimas gritarem nos meus olhos, e assim soube que iria chorar, como a muito tempo eu quis botar para fora tudo que havia guardado dentro de mim. Mais não, eu não chorei! Eu quis ser forte como ela, que apesar de chorar bastante era ela quem continuava viva naquela situação que para mim a única saída que pude ver, era a morte, eu sou fraca.
Por tanto tempo quis aquilo, e no exato momento que me foi concebido, eu voltei atrás. E descobri que não sou tão insensível assim, que eu amo viver, e o quanto é importante ter além de saúde, o amor daquelas pessoas que para nós são importantes e fundamentais. Ela não tinha nada disso. E ela continuava todos os dias a levar a comida para seu marido no Posto de Gasolina, arrumar a casa, e escutar deboches dentro e fora dela. Mais uma vez eu repito: ELA é forte! Tão forte que me faz inveja, queria poder ser assim.
Então eu não chorei mais, não quero chorar, não quero desistir.
''tchau querida, foi um prazer te conhecer!'' Um sorriso tão meigo, doce e puro, era quase uma criança sorrindo, ela me deu adeus e desceu no Posto da vila Tamandaré.
''Tchau'' Eu tentei corresponder à altura. Segui a viajem.

5 comentários:

  1. Eduarda,
    Antes de qualquer coisa: Parabéns. Você conseguio transmitir a dor das personagens. Uma crônica bem.. não sei nem a que palavra recorer. ''Chora também é para os fortes'' um dia você mesma me disse isso, lembra?
    Acho que você foi adentro à alma completamente, e fico feliz em saber que descobrio a sensíbilidade que há em você. Pois eu a senti desde quando nos conhecemos.

    Continue sempre escrevendo o mundo ao seu redor e o mundo que ha dentro de você, pois são textos e principalmente pessoas como você que me inspiram (além de escrever) para viver!

    Abraço.

    ResponderExcluir
  2. Duda! Faço das palavras de Otávio as minhas e digo mais, você é brilhando dentro e fora desse blog, o que escreve aqui é muito mais do que você vive, do que você senti, é algo que não existe, que é consumidor a tal ponto de explodirem contos,crônicas,poesias a seu gosto.
    É linda a crônica, confesso que fiquei até triste ao ler, mais a vida é triste também.
    Você é extremamente sentimentalista, a ponto de conseguir descrever maravilhosamente ele.

    Invejo o seu dom de escrever, vejo melhores a cada dia! e eu sei que sera uma grande escritora, continue lendo a vida, e escrevendo-a.

    Um beijo amiga!

    ResponderExcluir
  3. Oh! fico até com vergonha, parem parem rs.
    Falando serio agora... é recompensante ter leitores como os senhores (amigos rs) apesar desses elogios exagerados (muitíssimo) tiro deles ainda mais vontade para escrever haha.

    Abraço!

    ResponderExcluir
  4. nossa Duda esse texto ta fantastico ...
    ( e ñ é exagero)
    amei tudo que nele está escrito, foi como eu tb tivesse fazendo parte da história, meus olhos até piscaram mais forte, talvez com vontade de soltar uma lágrima, ta simplismente perfeito.
    "chorar tb é para os fortes" amei isso
    parabens c ahasa meina.
    cada dia mais tenhocv erteza disso ;)

    ResponderExcluir
  5. Por esses textos e outros que lhe presentei com os selos...

    Sensacional...

    Abraçosssssss

    ResponderExcluir