domingo, 22 de novembro de 2009

Azobel foi pro mar

Desde garoto Azobel sonhara conhecer o mar
Dizia que ele é tão grande cuja nossa vista não a de alcançar
E não estava enganado a respeito da sua extensão
Sonhara com o cheiro, com a cor, e sol da estação

Todo verão Azobel deitava no quintal da sua casa
Imaginava que na praia ele estava, e prontamente mergulhava;
Mergulhava na fantasia de estar no litoral, capital e o escambal
Sonhara até que pagava uma rodada de chopin pra quem lhe acompanhara

O chefe da segunda-feira pisava nas costas do pobre vendedor
Não era bicho, nem era escravo, era um trabalhador
Seu nome era Azobel, filho do falecido camelô

Um dia ele partiu madeira em sua casa
Os moveis abraçavam as paredes, a louça voava
E Azobel desistira de sonhar, estava decidido a viajar
-Pro litoral eu vou já!

Vendera o tudo que não era nada, ruma à cidade grande
Pusera até sapato novo que'ra pra dá boa impressão
Deixou apenas um recado pro seu José:
-Que o diabo lhe assalte e leve tudo que puder

Muita estrada e pouco pão já era o presente do forasteiro
Que junto a bagagem do caminhão deitava com toda sua ilusão
Pouco dormiu por ansiedade, outrora por buracos que o sacudiam
Fez as malas que por pouco tempo ainda lhe pertenciam

O sol queimava as pálpebras de Azobel
Que logo com um sorriso descobriu o litoral
Quão grande era seu chão quão lindo era seu céu!
O oposto donde havia crescido, descalço em meio matagal

Abriu então seus braços, abriu a boca, engolindo o vento
Que berrava ao seu ouvido como o barulho das conchas do mar
Deixou as trouxas e como uma criança se jogou dentro d’água
Morreu afogado, não sabia nadar.

2 comentários: